sexta-feira, 2 de maio de 2025

Médica de Palavras - Capítulo 2

    Kethelyn estava passando em frente a uma cafeteria quando notou a presença de um rapaz que ela conhecia, ele estava sentado, era um rapaz de pele marrom, cabelo afro, usava óculos, vestia uma camisa com uma estampa de uma HQ que ela não conhecia, sorriu e entrou para falar com ele.

    - Que mal educado, nem se apresentou.

    - Nem você.

    - Então, E?

    - Sabe o que é engraçado ? - o rapaz mudou de assunto descaradamente, sem titubear.

    - Não vai me responder? - Ela percebeu o que ele fez e respondeu irritada.

    - Um cara uma vez me contou uma história sobre a migração na américa Latina, e eu fiquei fascinado.

    - Sobre a migração na América Latina?

    - Sim, já notou como os povos originários se parecem muito com os asiáticos? Ele estava me falando sobre isso, não sei se é verdade mas achei a história no mínimo interessante.

    - Porque exatamente?

    - Ele contou que os primeiros povos que chegaram aqui foram os asiáticos, e com o passar do tempo a pele foi ficando avermelhada por conta do nosso clima tropical, esses primeiros povos começaram a domesticar as plantas por conta do solo ser extremamente fértil, ou seja, comida em abundancia, e desenvolveu a técnica de viver em harmonia com a natureza, criando a Floresta Amazônica com as próprias mãos, ajudando as plantas a crescerem, cuidando dos rios, das matas, e da floresta.

    - Isso é realmente interessante - Ela já havia esquecido da pergunta que fez. - Mas porque é engraçado.

    - Porque eu lembrei de outra história que outro rapaz me contou, que algumas famílias de povos que foram escravizados foram compradas por umas pessoas que não tinham a intenção de mantê-los como escravos, essas pessoas foram batizadas com o "do" no nome. Fulano Do Santos, por exemplo.

    - Entendi, mas qual era a intenção dessas famílias.

    - Ai que vem a parte interessante, essas famílias libertavam e também ensinavam essas pessoas a ler, escrever e em troca eles que antes eram escravos, ensinavam seus costumes e seu antigo modo de vida.

    - Porque eu nunca soube disso? - Kethelyn naquele momento já estava mergulhada no diálogo.

    - Não sei, o que eu acho é que isso faz uma grande diferença num sentido de linhagem, porque o que eu ouvi falar sobre essa história é que as famílias que faziam isso também eram asiáticos, Chineses e Japoneses.

    - Uau! De onde você tira essas coisas?

    - Eu gosto de conversar, e volta e meia aparece uma conversa assim. - Ele se encostou na poltrona extremamente confortável da cafeteria despreocupadamente e olhou pra cima, já completamente absorto em pensamentos.

    - Mas porque você acha que isso faz diferença?

    - Porque, pensa comigo, essas pessoas foram tiradas de suas terras e sua linhagem foi perdida, adquirindo nomes que não são delas mesmas, mas quando se tem entendimento sobre uma história como essa, o entendimento de si mesmo passa a ser diferente para essas pessoas que tem esse "Do" no nome, porque os antepassados delas foram respeitados, e o ressentimento que ainda assombra algumas pessoas, dá lugar a um sentimento novo, que pode ter várias formas.

    - Porque isso parece pessoal?

    - Porque é. - Ele riu.

    - E não vai dizer seu nome? - Ela riu também.

    - Pode me chamar de Estevam.

    - Ta certo, Cappuccino?

    - Sim, sem açúcar por favor.

    - Conhece numerologia?

    - Assim, do nada? - Ela voltou com duas xícaras na mão, rindo com a pergunta inesperada.

    - É, saca só, escreve teu nome aqui no papel. - Ele entregou uma caneta e um pedaço de papel a ela.

    - Pronto. - Ela escreveu e entregou a ele.

    - Certo, Kethelyn, seu nome tem 8 letras, significa que a carta 8 do Tarot, te representa, mas só funciona direito quando você soma os números do nome completo, e se der mais que 22 você soma novamente os números, por exemplo se tiver 27 você soma o 2 e o 7, aí a carta é a 9, entende?

    - Okay, mas porque? - Ela fez uma pausa, e riu novamente? - Isso era só pra você descobrir meu nome né?

    - Imaginei que ia fazer mistério. - Ele riu.

    - E você acredita nessas coisas de Tarot?

    - O Tarot é um oráculo, não é exatamente pra ler o futuro, serve apenas pra você acessar arquétipos e refletir sobre esses aspectos da consciência que existe em todo consciente coletivo humano.

    - Então você não é um jovem místico? Porque ta começando a parecer com essas conversas.

    - Já falei que não gosto de rótulos, lembra? - Esse Cappuccino está bem melhor hoje.   

    - Mas ele sempre foi bom, o que tem de especial?

    - A companhia.

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