Capítulo 38 - O Piloto
automático
Todos se divertiam e bebiam enquanto o show continuava a toda altura, apenas a Bruna e o Magno continuavam a se divertir sem beber, Akin nunca se divertiu tanto, em algum momento quando o show atingiu o seu clímax, o vocalista chamou a multidão para perto do palco e começou o que chamavam de “Bate cabeça” abriu-se uma roda perto do palco, e várias pessoas começaram a se empurrar e às vezes até se esmurrar, mas como uma forma de diversão, quando alguém caía por conta dos empurrões, o pessoal parava a roda, levantava o caído e a “brincadeira” continuava. Ele observava o quando aquilo parecia perigoso e ao mesmo tempo muito divertido, “é uma ótima forma de extravasar as energias” pensou, foi se aproximando da roda e ouviu uma voz, que não parecia vir de fora, mas sim de dentro de sua mente “Vai lá”. “Porque não?” pensou para si mesmo enquanto seu corpo já havia entrado no meio da roda, protegia o seu rosto com os braços, enquanto usava os mesmos para empurrar quem se aproximava, pulava, ia de um lado para outro, mesmo sem querer, sendo empurrado por outras pessoas e às vezes empurrando também.
Tudo estava muito bem e
muito divertido, mas começou a ver as cenas como flashes, às vezes estava ali
consciente que estava no “bate cabeça”, mas às vezes parecia não estar ali,
parecia estar fora do seu corpo.
“HA HA HA HA HA HA HA HA HA
HA HA HA”
Ouviu uma risada muito alta
vindo de algum lugar que não conseguia localizar, ele não estava mais no bate
cabeça “Estou no mundo onírico?” pensou.
– Akin, você quer mais um
gole? – Ouviu a voz de Okedirá perguntando.
– Sim, é claro! – Ouviu sua
própria voz respondendo. “Mas como?” pensou, tentando ainda entender o que
estava acontecendo.
“Acha mesmo que só porque é
filho de um dos caras importantes que você tem total controle sobre isso aqui,
garoto?” - Ouviu uma voz um pouco esganiçada, como se fosse uma pessoa bêbada
falando, mas ao mesmo tempo sentia que a voz não parecia de alguém fora de si,
apenas levemente afetado pela grande quantidade de álcool.
“Quem está falando comigo?
Aqui está muito escuro, não consigo ver.” – ouviu um estalar de dedos.
“Desculpe, esqueci de
acender as luzes, ha ha ha ha ha ha” – A mesma voz esganiçada respondeu, num
tom de deboche.
“Eu estou no Reino
Onírico?” – Perguntou preocupado.
– Ei cara, vamos comprar
mais uma garrafa – Ouviu sua própria voz, falando para Okedirá. – “Não, eu já
bebi demais, não é para eu comprar outra garrafa”
“Ha ha ha ha, garoto, não
adianta, aquele alí não é você, pelo menos, não no momento.”
“Mas como isso é possível?”
“Você agora está no ‘piloto
automático’, apenas relaxe e observe, se tiver senso de humor suficiente, pode
ser divertido, ou não, ha ha ha ha ha” - A voz esganiçada não parava de rir,
enquanto assistia Akin ficar desesperado, sem saber o que fazer para retomar o
controle do seu corpo.
“Mas como é que eu vou para
casa? Eu preciso ir para casa!”
“Você sabe disso, mas
aquele cara alí, an an an, ele não sabe não, ele agora só quer beber, se
divertir o máximo que puder até não aguentar mais e dormir onde for mais fácil
de chegar, mas para sua sorte, tem uma amiga que não sai da cola dele.”
“A Bruna!” – Nesse momento
sentiu uma tontura enorme, e avistou algo como uma redoma de vidro enorme, com
letras azuis descendo, como se estivessem sendo escritas de baixo para cima,
projetadas na superfície de vidro.
“É melhor não ir por aí
garoto, nem sei como você conseguiu chegar aqui, mas se entrar aí, eu não vou
poder te acompanhar não” A voz esganiçada agora parecia um pouco preocupada.
“Esse aí não é o meu domínio.”
– O Algoritmo está quase
pronto, dessa forma poderemos ter acesso melhor ao reino onírico e poder
finalmente localizar a Máscara do Ícelo – Ouviu a voz do Ricardo falando com
alguém.
“Onde eu estou? E quem é
você afinal?”
“Não seja tão burro, você é
filho de quem? Não te disseram? Você estava fazendo o que antes de chegar aqui?
Evoé, se seu pai existe, todos nós também existimos”
– Pelo que o Akin me disse,
o poema é uma chave, e se você conseguir desvendar do que ele fala, você é
capaz de saber a hora em que a porta da câmara se abrirá. – Era a Karen.
– Era uma noite de lua
cheia quando ele conseguiu, não é?
– Sim, era.
– Então não é difícil saber
o resto.
“Ela realmente está
trabalhando com ele” - Começou a sentir uma raiva muito grande, toda a
estrutura a sua volta começou a tremer.
“Ei garoto, vai com calma
aê, você nem sabe o que está fazendo”
“Preciso saber o que é
aquilo”
– Oi mãe, cheguei! – Ouviu
sua voz falando com sua mãe. “Já estou em casa? Como isso aconteceu?”
“Eu falei garoto, aquilo é
seu piloto automático, enquanto tava brincando por aí, ele estava se
divertindo, olha pelo lado bom, você já está em casa, ha ha ha ha!”
“E como eu faço pra
voltar?”
“Você vem me perguntar? É
mesmo bem ousado viu.”
Sentiu-se ser puxado para
perto da redoma de vidro novamente, e dessa vez dava para ver a câmara do Ícelo
dentro dela, parecia ser uma cortina feita de letras azuis, que se
atravessasse, chegaria até a câmara novamente.
“Preciso chegar até a
máscara antes dele”
“Já falei com você que se
for por aí, não poderei te acompanhar”
“E o que isso significa?
você não está fazendo nada, só falando comigo e eu nem sei onde você está”
“Significa que você está em
casa, e dentro do meu domínio, pela quantidade ridícula de álcool que ingeriu
pela primeira vez, hahahaha” - quase que instantaneamente depois a voz
esganiçada ficou muito séria “Mas se for por aí, sairá do meu domínio, aí não
poderei mais falar com você, isso significa que eu não posso garantir que vai
voltar pro seu corpo.”
Nesse momento Akin já não
ouvia mais a voz e começou a andar em direção a redoma de vidro, quando surgiu
em sua frente um cara relativamente gordo, com uma camisa havaiana entreaberta,
com um copo de cerveja na mão, bermuda e chinelo.
– Garoto, você não me
ouviu, você não pode entrar aí, tenho uma dívida com seu pai, e se alguma coisa
acontecer com você, vou ter que prestar contas com ele em dobro, e isso não é
do meu interesse.
– Cara, eu preciso ir lá,
você não viu o que disseram?
– Mas não é seguro, você
sabe com quem está lidando?
– Já me falaram sobre eles,
mas eu preciso entrar alí e alcançar a máscara antes deles, eu já entrei lá. –
Akin estava decidido, empurrou o rapaz e tocou na redoma de vidro.
Foi como tocar em algo
molhado, mas sua mão não parecia estar molhada, o rapaz atrás dele estava
furioso, mas não podia fazer nada, Akin já não estava em seu domínio. A mão
dele foi afundando em algo gelatinoso, e o corpo dele foi desaparecendo do
local escuro, e entrando em um local cheio de luzes artificiais, o chão era
metálico.
“Eu já estive aqui, não
estou na câmara, não era para eu estar aqui”
Tentou voltar, mas já era
tarde, ele havia entrado no Virtual novamente, havia várias luzes nas paredes,
as paredes formavam um corredor, quando ele se aproximou para ver, eram as
mesmas letras azuis que tinha visto do lado de fora, como se estivessem sendo
escritas de cima para baixo, por toda a extensão da parede, quando chegou no
fim do corredor, percebeu que havia 2 caminhos, um para esquerda e outro para
direita, escolheu o da esquerda, e quando chegou lá, havia mais dois caminhos,
para ambos os lados.
“Estou num labirinto” -
Concluiu.
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