sexta-feira, 30 de maio de 2025

Pan-africanismo e Aquilombamento um retrato Brasileiro

Franz Kafka em uma de suas obras elucida o quanto que em vista de uma validação social o único caminho segundo ele, para o Negro na sociedade construída e estruturada por pessoas Brancas é se tornar "como um Branco", ou seja agir e se integrar ao sistema para assim conquistar um certo nível de "equidade" e "respeito", mas até onde isso é condizente?

Dentro dessa perspectiva, ao se integrar o Negro se desfaz de sua própria cultura e identidade, passando justamente pelo processo de colonização idealizado pelos colonizadores, e sendo assim, apenas dando razão aos povos que não souberam respeitar a liberdade dos outros povos, tendo esta questão em vista, dentro de uma perspectiva Brasileira, ou melhor Tupiniquim, essa questão que foi debatida, estudada e desenvolvida na França, não tem porque se aplicar em terras Brasileiras, tendo em vista que vários povos através da libertação de seus cárceres criaram os Quilombos, esses que deu origem a pessoas extraordinárias como o Nego Bispo, que em sua narrativa aliada com seu pensamento contra colonial, recusou os títulos de Doutor por defender que seu conhecimento não era apenas seu, mas de todo o seu povo.

Em contrapartida tendo em vista a sociedade em que os quilombos estão inseridos, se faz necessário em que haja uma diplomacia para que as sociedades funcionem como um ecossistema onde um não prejudique o outro, dando como exemplo o Próprio Nego Bispo que em sua vida, depois de aprender a ler, teve que lidar com inúmeras burocracias para possibilitar, ajudar e fazer a manutenção dos quilombos tornando-os reconhecidos pelo estado, mas sem nunca abandonar sua narrativa, dando palestras como um comum, nunca aceitando o título cujo qual havia todo merecimento mas que fazia questão de não aceitar, histórias como esta, mostra como é necessário haver um entendimento mútuo de todos os mundos, porque ao se isolar o indivíduo cai no ostracismo e acaba se isimindo dos próprios direitos, e em um mundo onde o normal é ignorar o direitos desses povos diasporicos frutos da resistência, se isolar do conhecimento que atualmente esta disponível é um ato de submissão.

Capítulo 26 - Fazendo a Ponte





Capítulo 26 - Fazendo a Ponte

Onirê desceu a escada e viu Thainá olhando a anotação que havia feito do poema com vários livros em cima da mesa, aberto em várias páginas diferentes, provavelmente procurando pistas de como desvendar o enigma que o poema propunha, eles precisavam saber como acessar a próxima câmara e principalmente como abri-la. Como a primeira câmara havia algo a protegendo e a segunda havia mantimentos, era de se esperar que a terceira tivesse algo escondido também, então ela estava realmente dedicada a não passar apuros nela.

 - A quanto tempo você está aí? - notando os diversos livros abertos e rabiscadas.

 - A mais tempo do que eu gostaria, admito.

- Posso dar uma olhada no poema novamente?

 - Pode - Ela pegou um papel com uma cópia que já havia preparado pra ele, e o entregou.

 - O primeiro poema, estava ajustado com o horário da lua, O segundo estava ajustado com o horário do sol, e esse, está alinhado com o horário de que?

 - Ei!!! - Você tem razão. Essa pode ser a resposta.

 - Você disse que sentiu algo o atravessando quando estávamos próximo do Santuário, não foi?

 - Sim, foi como se eu estivesse atravessando uma cortina molhada, mas sem me molhar, foi muito estranho.

 - Então, nas pesquisas que eu estava fazendo, eu vi algo parecido com isso, que tem alguns locais que são protegidos por uma cúpula de energia, quando passamos por ela você deve ter a sentido.

 - E porque você não sentiu? - Perguntou Onirê, curioso.

 - Isso eu ainda pretendo descobrir.

 - E isso tem a ver com o fato de existir dois lugares diferentes no mesmo lugar?

 - Então... Sobre isso... Acho que sim, tem a ver, mas não era o mesmo lugar…

 - Como assim?

 - Quando atravessamos a cúpula, passamos por um portal para outro lugar, quando eu fui lá com o Zen, eu não tinha percebido isso porque não senti a cúpula protegendo o local.

 - Então quer dizer que os horários também determinam qual Santuário está disponível?

 - É uma hipótese, mas o mais importante, um foi a noite, o outro foi de dia, então eu acredito que esse não tenha ligação com o horário.

 Pararam para ler o poema novamente...

 - E se isso significar algum evento astronômico? - Arriscou Onirê

 - Como assim?

 - Sei lá, algo como um cometa, ou algo parecido, sabe dizer quando é o evento astronômico mais próximo?

 Então... aqui não funciona como o lugar que você mora, e quem sabia fazer esse tipo de leitura era o Zen, apesar de o acompanhar e saber do resultado de suas pesquisas não era tudo que eu sabia fazer, e essa é uma delas...

 - Então voltamos pro início.

 - Talvez não...

 - Como assim?

 - Às vezes o Zen compartilhava algumas informações como essas com seus amigos da Ars Magna, então é provável que eles tenham acesso a esse tipo de tecnologia.

 - Mas você sabe que eu acabei de chegar lá né? Acha que me deixariam ter acesso a esse tipo de conteúdo?

 

- Talvez com o incentivo correto, eles deixem... - falou puxou a Caneta de Marfim adornada da bolsa balançando com um sorriso travesso no rosto.

 - Quer usar a caneta como moeda de troca? - Você a alguns minutos atrás estava convencida em não me dar.

 - Eu não confio neles, você parece confiar e eu confio em você, então posso dar um voto de confiança a você, mas só se você prometer que não vai tirar os olhos dela.

 - Me parece justo. - Onirê estendeu a mão para pegar

 - Ãh, não, você não pode levá-la para casa, ela pertence ao Reino Onírico, então você vai precisar levá-la direto ao laboratório da Ars Magna.

 - Mas como eu vou chegar... - Onirê começou a perguntar, mas lembrou de outro detalhe - A Espada!

 - Sim, é a forma mais rápida de você ir pra lá transportando um artefato.

 - E enquanto o bracelete que a Esme me deu?

 - É seguro, mas não tão eficiente, te leva até lá, mas não carregando itens poderosos.

 - Então você já a analisou?

 - Claro, achou que eu estava aqui brincando? - Esse item possui uma quantidade absurda de energia, por isso tem que ser manuseado com cuidado, e por isso também que você não pode tirar os olhos dele.

-  Certo, mas eu preciso ir para lá quando a Karen estiver lá porque ela disse que ia ver se alguém poderia nos ajudar.

- Tome cuidado em quem você confia, esses rumores não são bons, provavelmente isso já vinha acontecendo a algum tempo, desde a época do Zen, alguém deve ter feito algo muito fora do comum para ser descoberto, mas podem haver mais pessoas lá que não tenha boas intenções, fique sempre atento - estendeu a pequena bolsa de perna e a entregou a Onirê - não se esqueça, não tire os olhos dela.

- Obrigado, mas isso significa pra eu tomar cuidado com a Karen também, certo?

- Que bom que não preciso repetir, vamos adiantar, te levo até a Árvore dos Ventos.

- Árvore dos Ventos? É aquela árvore gigante onde a Espada está?

- Sim, foi o Zen que a batizou assim, por conta do Falcon.

- Okay, esse eu conheço.

- Ele não é muito simpático - Thainá falou rindo

Saíram da casa e seguiram em direção ao norte para encontrar a Árvore dos Ventos. Chegando lá o Falcon estava sobrevoando ao redor dela como de costume, e pousou na frente do casal.

- Precisamos acessar a chave.

O grande Carcará abriu as asas que dariam facilmente 2m de cumprimento de ponta a ponta, e quando fechou ao redor de si, elas se transformaram em uma capa marrom da mesma cor das penas, e quando desceram, um rosto humano ficou à mostra. Onirê ficou estupefato, O Carcará havia acabado de se transformar em gente, igual a Thainá fez.

- Esse moleque já não fuçou demais por aqui?

- Você sabe que ele não estaria aqui se o Zen não tivesse deixado.

- E onde o Zen está? Faz anos que não o vejo.

- Também não sei, mas eu preciso que ele use a chave.

- Eu o deixei passar da última vez achando que ele não voltaria, você sabe qual a minha obrigação.

- Falcon, ele foi recrutado pela Ars Magna e precisa ir até lá em uma missão importante.

- Esse moleque? Na Ars Magna? Eles realmente se degradaram com o tempo. Podem passar.

- Eu não sou moleque - defendeu Onirê.

- E eu não perguntei. - Retrucou Falcon rabugento. - Vá antes que eu mude de ideia.

Thainá o puxou pelo braço até a entrada que ficava entre as enormes raízes da árvore dos ventos.

- Falei que ele não era muito simpático.

- O Kong também se transforma em gente? - Onirê perguntou se referindo ao Gorila.

- Não sei, nunca perguntei - Thainá falou rindo.

Entram no local, Onirê um pouco desengonçado e tropeçando, e Thainá andando normalmente, como quem já conhecia o lugar a muito tempo.

- Aqui, mentalize a região da Base da Ars Magna que você vai direto pra lá, cuidado.

- Agora que lembrei, você não me deu o poema,

- E não darei, se contente só com uma parte, a outra fica comigo.

Onirê ficou um pouco chateado, mas entendeu a decisão, foi até a espada e segurou em seu cabo.

 

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Capítulo 25 - Revelações

 

Capítulo 25 - Revelações

- Ei, Mãe, quem te indicou esse emprego mesmo? 

- Ah, foi um amigo de um amigo, que estava precisando de uma secretária e fez uma seleção.

- E como é o nome desse amigo, por acaso seria Baron?

A mãe dele o olhou com uma cara bastante desconfiada.

- Você está andando me espionando menino? - Falou em um tom bem sério.

- Não, o pai de uma amiga é sócio do Museu e estava falando comigo pra gente ir lá.

- Amiga, né? Já está namorando e não me contou nada?

- Ei, não é nada disso, só saímos pra comer um lanche e conversar nada demais.

- Ah sim, e a tal da Karen, já se esqueceu dela?

- A Karen também é só minha amiga mãe…

- Sei, você está com muitas amigas para o meu gosto.

- Sim, estamos marcando para ir lá no museu, tá bom? No dia eu aviso a senhora.

- Tudo bem, mas não chateie o Sr. Baron, ele é um homem muito excêntrico, ainda não tive a sorte de o encontrar com raiva e espero que continue assim.

A pergunta da mãe dele sobre a Karen o fez lembrar que precisava da caneta que estava com a Thainá, então ele foi terminar os afazeres da casa que estavam atrasados por ele ter saído no dia anterior, e foi direto para o quarto tentar acessar a casa do Zen novamente, mas antes de subir lembrou de uma coisa.

- Mãe, meu pai tá vivo? - Perguntou de supetão

A expressão dela mudou drasticamente.

- O que foi isso do nada?

- Eu mereço saber sobre meu Pai, mãe, você nunca fala sobre ele, nem sei como ele é, não sei se me pareço com ele, você sempre evita tocar no assunto, acho que eu preciso saber o mínimo pelo menos, sempre respeitei seu espaço, mas eu também preciso que respeite as minhas decisões.

- Okay, certo, seu pai está.

- Por que vocês se separaram?

- Então… - Ela sentou na cadeira da mesa da cozinha e começou a lacrimejar. - Éramos tão jovens, tão apaixonados, mas a família dele era muito rica, e não aceitava nosso relacionamento, e quando descobriram que ele estava comigo, o mandaram para outro país, ele não sabe de você e eu nunca consegui entrar em contato com ele.

- Porque você nunca me contou?

- Porque não queria que você criasse esperança em o encontrar, eu não faço a mínima ideia onde ele esteja atualmente, já se passaram 16 anos.

Aquelas palavras o atravessaram, ele não sabia como se sentir, acabara de descobrir que seu pai estava vivo, e nem sequer sabe da existência dele, o que ele ia fazer com essa informação? - Ele se sentou na escada, colocou a mão no rosto e começou a chorar, a mãe dele levantou da cadeira, correu até ele, o abraçou e passaram aquele momento juntos, um consolando o outro, até que todas as lágrimas pudessem escorrer, e enfim poderem juntos as secarem.

- Obrigado por me falar a verdade.

- Eu que peço desculpas filho, você não merecia crescer sem um pai, e eu nunca mais me apaixonei por ninguém, então criei você sozinha, nunca achei que seria um problema, mas sabia que esse dia chegaria.

- Tá bom - disse secando as últimas lágrimas que caíram - vou pro meu quarto, preciso descansar.

Onirê estava ainda chocado com a informação, decidiu apenas descansar e tentar a meditação outro dia para não acabar indo parar em locais desconhecidos, arrumou as coisas para ir ao colégio no dia seguinte e foi deitar.

Quando caiu no sono, teve uma sensação diferente, ele se viu saindo do próprio corpo, como se fosse um “Fantasma” e começou a voar até passar da camada de ozônio, ele flutuava pelo sistema solar, e seguia em frente, até chegar na constelação de Andrômeda, e lá foi chegando até chegar à estrela S-And, lá se encontrava um Planeta um pouco menor que a terra, ele foi até ele e entrou em sua atmosfera, foi descendo bem rápido até chegar em uma ilha onde ele podia ver bem de longe uma casa branca, foi descendo até aterrizar em frente a casa, mal conseguia acreditar onde estava.

Ainda estava um pouco tonto da viagem, foi andando em direção à casa, abriu a porta e foi logo sentando no sofá para descansar.


Não conseguia parar de pensar “Isso foi real? É assim que eu venho pra cá?”, nem reparou que a porta do porão estava aberta, e Thainá saiu de lá com potes de vidro na mão, fazendo uma mistura de um líquido de cor laranja.

- Achei que tinha esquecido de mim - Thainá falou fingindo uma voz fofa.

- Nem começa, preciso conversar com você.

- Ei, tenha bons modos e fale comigo direito antes de vir com suas pendências.

- Eu tentei vir antes, mas não consegui.

- Imagino, aqui não fica disponível sempre, até porque é um local que está selado pelo Zen.

- E como você está aqui sempre que eu venho?

- Ah, garoto, me poupe, eu ajudei a construir isso aqui.

- Thainá, eu preciso da Caneta que encontramos, eu e a Karen vamos investigar, descobrimos que ela faz parte da história dos 3 irmãos… - e começou a contar tudo que havia descoberto sobre o santuário e sobre a caneta com a Karen.

- Alto lá, você acha mesmo que eu vou te dar a caneta pra você sair por aí brincando de cientista com aquele pessoal da Ars Magna?

- É preciso, estão tramando trazer o Ícelo de volta e não podemos deixar que isso aconteça.

- Sim, essa parte eu entendi, eu não entendi é o que ela quer com esse artefato, se já sabe pra que serve, não é melhor deixar guardado em um local que poucas pessoas tem acesso?

Thainá parecia um pouco debochada às vezes, mas ela definitivamente não era burra, tinha razão quanto a isso, mas era a Karen, ela devia ter seus motivos, pensou ele.

- Mas ela disse que precisava para poder investigar quais os poderes…

- Nem mais uma palavra, a caneta não sai daqui, nem adianta insistir - ela falou, interrompendo o que ele ia dizer.

- E como vamos evitar a volta do Ícelo?

- Você não está esquecendo de nada não?

- O que?

- Que precisamos desvendar o Poema para ter acesso à próxima câmara?

Onirê lembrou tudo de vez e ficou surpreso por aquela informação ter escapado da memória.

- Realmente, ainda não sabemos como chegar até a próxima câmara.

- E outra, por acaso ela lhe falou como eles romperam com o Zen?

- Não…

- Então - Thainá se sentou no sofá ao lado dele - Um dos livros mais antigos do Zen, que ele guardava com muito cuidado foi roubado, e ele desconfia que foi alguém da Ars Magna.

- Ele não chegou a descobrir quem foi?

- Não, mas ele tinha certeza que foi alguém de lá.

Foi quando Onirê se lembrou de outra coisa.

- Que cara foi aquela quando eu falei da Esme?

- Não é da sua conta garoto, se preocupe com seus problemas, e eu me preocupo com os meus. - Ela levantou de vez e foi em direção ao laboratório novamente.

- E que poção é essa que você tá fazendo?

- Poção? - Ela deu uma boa gargalhada - É suco de laranja.

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Capoeira como Filosofia

As artes marciais orientais em sua maioria tem como objetivo maior fazer a integração do espírito com o corpo, fazendo dessa forma o indivíduo experimentar a unidade em sua existência.

No Brasil surgiu em meio a diversas dificuldades, uma Arte Marcial que além de estimular e desenvolver o corpo através das técnica passadas dos mestres para os alunos, também é capaz de desenvolver diversas habilidades biopsicomotoras através de diversos estímulos sensoriais, uma arte que junta a dança com a música integradas à sua luta, uma arte que é irrigada pelas águas das tradições africanas mas com raízes no Brasil, a Capoeira.

Capítulo 24 - O encontro na Casa de Chá

 

Capítulo 24 - O encontro na Casa de Chá 

Ele não sabia porque, mas a Ariel, parecia familiar, lembrava alguém que ele conhecia, mas ele não estava conseguindo associar a quem, se vestiu com uma roupa casual, como de costume, calça jeans preta, camisa branca e decidiu fazer Tranças pela primeira vez para a ocasião, estava com o cabelo grande, e queria impressioná-la de algum modo para atrair sua atenção, não sabia como ela era fora do colégio, mas sabia que o pai dela era abastado, ele estava ciente que estava entrando em um novo mundo, e precisava começar a agir de acordo.

Era um final de semana ensolarado e ele chegou antes do horário marcado na Casa de Chá, era uma loja super confortável, com móveis rústicos em madeira, iluminação muito boa por conta das grandes janelas de vidro, Onirê ainda duvidava se ela ia aparecer, mas para sua surpresa, no horário marcado ela apareceu, estava muito bonita, vestia um cropped branco de renda, uma saia grande jeans, estava com os longos cabelos loiros soltos, mas estava com algo na mão, uma caixa de um instrumento.


- Oi, você realmente veio. - Onirê quebrou o gelo.

- E você não se atrasou, parabéns - Ariel respondeu secamente.

- Está sempre de mau humor assim?

- Não… Os últimos dias eu tenho andado estressada devido às demandas, meus pais tem me cobrado o dobro do que cobram normalmente, estou uma pilha de nervos, minha mãe insiste nas aulas de violino e meu pai exige que eu tenha boas notas “Porque eu sou filha dele e tenho que dar um bom exemplo” bla bla bla. - Finalmente desabafou.

- Ah, desculpe, eu não sabia que sua vida era tão agitada. - Ele tentou acalmá-la. -  Então, sua mãe toca?

- Não profissionalmente, mas ela queria muito que eu tocasse em uma orquestra, daí a exigência.

- E seu pai, ele é um dos sócios da Sain’t Phillips né? - Arriscou.

- Bem, sim, mas não só isso, ele tem outros empreendimentos, ele é muito ocupado, mas sempre acha um tempo pra me dar uma bronca ou cobrar os estudos, enfim viemos falar dos meus pais?

- Ah não, só queria te conhecer melhor, quer comer alguma coisa?

- Sim, os lanches daqui são os melhores da região, e os chás são feitos com ervas frescas, são incríveis. - Ariel falou empolgada pela primeira vez.

“Ela tem um sorriso bonito” pensou ele “e não parece tão assustadora sem a escolta por perto” se dirigindo às pessoas que vivem ao redor dela no colégio.

- E seus pais? - perguntou ela checando o cardápio.

- Bem, eu não conheci meu pai.

- Ah, sinto muito, eu não sabia.

- Ah, tá tudo bem, não se preocupe - falou tentando esconder o que realmente sentia, não gostava de pensar no assunto, porque ele ficava triste sempre que lembrava disso - eu moro com minha mãe.

- E ela faz o quê? É empresária?

- Não, ela trabalha no Museu de Astronomia como Secretária.

- Jura? Meu pai também tem um sócio que trabalha lá, o Sr. Baron é uma figura, você o conhece?

- Não, ainda não fui lá.

- Sério?? Porque não vamos lá outro dia? É bem divertido, posso te mostrar as melhores sessões, tem uma área de observação de estrelas, umas amostras de satélites e umas experiências do Nicolas Tesla de exposição, é incrível.

E de repente toda a imagem que Onirê havia construído da Ariel em sua mente se desfez, era uma menina adorável apesar de toda aquela fortaleza que construiu ao redor dela.

- Podemos sim, mas eu preciso ver com minha mãe antes, para não aparecer lá sem avisar.

- Tudo bem, só foi uma ideia - Ela enrubesceu quando notou que havia se empolgado.

- Então, você gosta de Astronomia?

- Sim, muito, costumo observar o céu quase sempre, sabia que a constelação de Órion às vezes é retratada como um guerreiro com um arco, e em outras regiões é retratada como um guerreiro com uma espada e um escudo?

- Não sabia, isso é bem interessante, então, seu pai tem muitos negócios né?

- Sim, ele se ocupa mais com uma Startup de tecnologia, mas dá um pouco de atenção às filiais da sociedade que ele faz parte. - A última parte ela falou quase inaudível, percebendo que estava falando muito.

Foi quando uma figura conhecida entrou pela porta surpreendendo os dois, uma prancheta de desenho na mão, lápis na outra, e uma cara de quem estava com a cabeça nas nuvens pensando em algo para desenhar.

- Aquele não é seu amigo?

Onirê quase caiu da cadeira quando viu Magno olhando para eles rindo.

- E aí, Onirê, mostrou o desenho pra ela?

- Que desenho? - Perguntou Ariel curiosa.

- Nenhum, é brincadeira dele - blefou - Ei Magno, o que faz por aqui?

- Eu ia perguntar a mesma coisa para vocês, mas não quero me meter não - falou como quem captou um clima no ar. - A loja é dos meus pais - completou indo até o balcão e falando com atendente - Inclusive, Jó, aquela mesa é por conta da casa - virou para os dois - Só não exagere viu - falou sorrindo para Onirê.

- Não precisa se incomodar, Magno.

- Não se preocupe, faço questão, enfim, preciso terminar alguns desenhos, vou indo.

- Me desculpe - falou para Ariel.

- Não se preocupe, apesar de parecer um tapado, foi gentil da parte dele.

- Ei, ele não é tapado, só gosta de ficar concentrado nos desenhos.

Passaram o resto da tarde conversando sobre as coisas que há no museu, até que decidiram ir embora quando notaram que havia passado muito tempo.
 Se despediram com um abraço envergonhado, mas sorriram quando foram embora. Onirê gostou muito da companhia dela para sua surpresa, mas estava preocupado com outra coisa.

“Realmente preciso tomar cuidado com o pai dela, ele é muito influente, e conhece onde minha mãe trabalha, inclusive, como minha mãe conseguiu esse emprego mesmo?”.

sábado, 24 de maio de 2025

Ensaio sobre a Pos-Verdade e a Vida Artificial

Em um mundo ainda inundado pelo obscurantismo, onde a política se desfruta do sensacionalismo e a população em sua grande parte preocupada com questões ainda intimas e pessoais, fruto do Neo-liberalismo que apoia o indivíduo acima de qualquer questão social, a Aletheia termo que nunca foi popular, significando o desvelo da realidade propriamente dita, que mais tarde foi associada à deusa romana Veritas e que entendemos aqui como Verdade, foi completamente esquecida.

As consequências de se viver uma vida artificial, num mundo artificial (virtual) são sentidas quando há uma tendência onde pessoas cuidam de bonecas como se fossem crianças e passam a exigir o direito delas a tal ponto do estado ter que interferir com a criação de mais de 20 leis para que as pessoas voltem para o eixo, há questionamentos completamente fundamentados que isso pode ser fruto de doenças psicológicas geradas pela forma que o mundo virtual afeta as pessoas hoje em dia, em contrapartida, no mesmo país onde isso está acontecendo há inúmeros acontecimentos trágicos acontecendo com pessoas reais onde as pessoas não dão a devida atenção o que gera questões importantes como: Porque o debate público em evidência são Bonecas e as leis criadas e não a discussão sobre criação de energia renovável para evitar o desmatamento, e com isso evitar a morte de mais famílias em terras indígenas?

O descolamento da realidade se mostra tão evidente que é nítida a preocupação de determinadas pessoas, a fim de nutrir a própria satisfação pessoal em ter um vínculo familiar, afasta as mesmas da compreensão de fazemos parte de uma mesma espécie.

O que se torna ainda mais gritante a urgência de se ter uma atenção dobrada sobre a forma como se dá as relações pessoais e como essas relações não estão fazendo as pessoas terem maturidade, essa falta de maturidade, ou como diria o Sant em uma de suas citações "maioridade mental" é extremamente necessária para que haja um senso crítico, para que haja um pensamento onde a realidade objetiva vença a pós verdade e a Aletheia possa mais uma vez ser reconhecida.


Capítulo 23 - Menina Sereia

 

Capítulo 23 - Menina Sereia

Apesar da prioridade de encontrar e falar com Thainá, Onirê não estava conseguindo acessar mais a casa do Zen como era de costume, nem o bracelete dado por Esme estava resolvendo, então decidiu por um instante deixar isso de lado e focar no colégio, não podia deixar as responsabilidades da Ars Magna atrapalharem sua vida acadêmica, até porque um bom desenvolvimento escolar era uma das coisas que eles cobravam para poder ter acesso aos serviços dela, principalmente agora que estava trabalhando duro com a Karen para buscar novas informações sobre os irmãos, ele tinha uma sensação de que ela não havia dito tudo, mas resolveu apenas confiar nela e continuar as pesquisas.

Um dos trabalhos propostos pela Ars Magna como forma de iniciar seus trabalhos foi o desenvolvimento de uma obra literária que explicasse com detalhes como as Viagens melhoraram ou atrapalharam sua vida cotidiana, apontar formas de melhorar e também sugerir formas de resolver os problemas causados, ele supôs ser uma maneira de fazer os novos membros se adaptarem à nova rotina de um modo que não impactasse negativamente a sua vida comum.

Sua vida acadêmica andava em dias, embora preocupado com o tal Ricardo, depois da conversa que ele ouviu, ele vinha tentando buscar mais informações sobre, mas ele parecia uma sombra, quase sempre quando era visto era de passagem, ou conversando com as pessoas da diretoria, ou com alguns professores, quase nunca falava com os alunos.

O que mais havia lhe surpreendido no colégio apesar de toda a estrutura dantesca e recursos disponíveis, foi a culinária, os professores geralmente comiam no refeitório junto com os alunos, pois a comida era impecável, não era de costume repetir o cardápio, a comida era oferecida de graça, havia desjejum disponível para os que chegassem com fome de casa, e um brunch na hora do intervalo que era um pouco mais tarde do que de costume, às 10:30, um dia ele estava comendo com seus novos amigos, Magno, Bruna e Okedira, quando avistou o Ricardo entrando no refeitório e indo em direção à mesa dos professores, surpreendentemente ele se sentou e ficou conversando com eles por um tempo, depois se levantou e foi em direção a porta.

- Vou ao banheiro, já volto.

- Cuidado com as Sereias no caminho. - falou Magno rindo, Okedirá e Bruna riram também, apesar de ser uma piada interna, Onirê não entendeu o Timing.

Ele se levantou e partiu em direção à porta, o mais rápido que pode sem chamar atenção, para não perder o rastro do Ricardo, seguiu ele pelos corredores, parecia estar indo à direção como de costume, quando o ele entrou na sala Onirê vinha logo atrás, mas no meio do caminho foi surpreendido com a porta da Biblioteca abrindo.

- Conhece meu pai? - Era Ariel que vinha penteando os longos cabelos Loiros com a ponta dos dedos. estava acompanhada de um rapaz magro, alto, com cabelo castanho, olhos fundos e uma expressão neutra, mas com um olhar de desdém, e logo atrás uma menina morena, cabelos escuros, olhos escuros, cabelo liso channel, corpo atlético, e com um sorriso jovial.

- Seu pai? - Falou ele confuso.

- Sim, eu o vi pela janela, parecia estar seguindo-o.

- Ahh! Não, eu ia fazer um favor que minha mãe pediu e resolver um problema na direção. - Blefou.

- Ah, desculpe, pode continuar então. - Desafiou Ariel.

Onirê notou o tom, mas havia acabado de perceber uma grande oportunidade.

- Não se preocupe, não é nada urgente, quem são seus amigos?

- Ah, desculpe a falta de educação, esse é o Gabriel, essa é a Mel.

- Não sabia que gostava de leitura - Onirê devolveu a provocação.

- Tem muita coisa sobre mim que você ainda não sabe. - Falou Ariel, gostando da atitude. - Porque não vamos ao refeitório, daqui a pouco o intervalo acaba e eu ainda não comi, ser inteligente exige certos sacrifícios.

- Liga pra ela não, está de mal humor hoje. - falou Mel, tentando apaziguar a situação, mas foi retribuída com um olhar ardente da Ariel, o Gabriel continuava indiferente, lendo alguma coisa que o Onirê não conseguiu ver.

Rumaram em direção ao refeitório, conversando despretensiosamente sobre as rotinas acadêmicas, apesar de desconfortável, ele não queria deixar a oportunidade de conhecer melhor a filha do Ricardo passar, assim que entrou no refeitório Bruna o lançou o um olhar incrédulo, Okedirá estava olhando na direção deles, mas estava com uma expressão estranha, como se estivesse olhando pra outra pessoa, e o magno como sempre, estava desenhando de cabeça baixa, se despediu e foi se juntar aos amigos, meio encabulado.

- O que você estava fazendo com aquela galera? - Bruna já começou o interrogatório, antes mesmo dele sentar.

- Eu os encontrei perto da biblioteca. - Assumiu.

- Mas o banheiro fica para o outro lado. - Okedirá falou como quem tinha acabado de despertar de pensamentos profundos, e olhou para ele curioso.

- Eu fui fazer um favor na direção pra minha mãe - Blefou de novo.

- Você é um péssimo mentiroso - Bruna bufou.

Onirê começou a falar de coisas aleatórias para tentar mudar de assunto, mas se atrapalhou quando viu surpreso o desenho que Magno já estava concluindo.
 Era a Ariel, em forma de sereia, cantando para um rapaz que visivelmente era ele.


- Mas como? - tentou chamar a atenção do Magno acenando pra ele.

- O que? Ah, não foi nada demais, quer? Fiz pra você. - Destacou o desenho do papel, e o entregou a Onirê, os níveis de detalhes eram impressionantes.

Onirê olhou com um olhar suspeito para ele, que o retribuiu com um sorriso travesso, estendendo o braço e entregando o desenho.

- Obrigado… - Falou um pouco alto porque a sirene que informava o fim do intervalo havia acabado de tocar, para o alívio dele. - Bem, vamos, não quero me atrasar.

Todos foram em direção à sala de aula, ele notou que o Gabriel e a Mel foram para outra sala, mas não notou qual.


 - Que foi que você não tira os olhos deles? Você voltou estranho dessa "biblioteca". - Bruna falou ainda intrigada.


 - Não foi nada, eu estava pensando em conversar mais com a Ariel, apesar de ser um pouco esnobe ela me pareceu uma pessoa interessante.


 - Sei, interessante... - Falou Magno olhando desconfiado para ele.


 - Ei, Onirê, porque você não vem jogar Basquete com a gente depois do colégio? - Convidou Okedirá.


 - Errr, hoje não dá, tenho que resolver as atividades, tenho que manter em dia se não posso perder a bolsa.


 - Tudo bem então, fica pra próxima, mas vou cobrar, eim! - retribuiu sorrindo. - Vai se surpreender que a Bruna joga muito bem, apesar de baixinha.


 - QUEM VOCÊ CHAMOU DE BAIXINHA? - Bruna esbravejou.


 - Calma aê, foi brincadeira - Recuou Okedirá.

Onirê sorriu e se sentou na carteira, passou a aula quase inteira olhando para Ariel, que apesar de estar acostumada com olhares alheios, notou e retribuiu algumas vezes com sorrisos.


 Quando saíram os 3 amigos foram na frente para ir pro Basquete, e Onirê falou que ia voltar para resolver o problema na direção, quando os amigos saíram, Onirê foi em direção da Ariel, que estava sem a "escolta" no momento, com uma estranha confiança.


 - Ei, você quer sair qualquer dia?


 - SAIR?! Falou Ariel em sobressalto - A pesar de ser muito bonita, ninguém tinha coragem de a convidar para sair, - talvez por ela ser filha de um dos sócios, pensava ela - olhou enrubescida para Onirê. - É... Sair. Sair pra onde?

 - Falou tentando retomar a postura.


 - Para tomar um café - investiu ele, notando que ela havia ficado desconcertada.


 - Tudo bem! Amanhã, às 15:00, na Casa de Chá, atrás do colégio, não ouse se atrasar.  - Saiu com um olhar firme, como se nada tivesse acontecido.

Onirê estava surpreso consigo mesmo pela coragem, definitivamente não podia deixar a oportunidade passar, havia muita coisa em jogo.


quinta-feira, 22 de maio de 2025

Capítulo 22 - Mestre e Aprendiz

 

Capítulo 22 - Mestre e Aprendiz

 

– Onirê, isso não é bom.

– Por que? Acabamos de descobrir quem são.

– Sim, mas o problema é que isso faz parte da história do Órion.

– Como assim, quem é esse?

– Orion foi um grande caçador treinado por Safira uma Guerreira especialista em Arcos em um local ermo dentro das florestas, aprendeu muito sobre plantas, sobrevivência em locais difíceis, aprendeu a caçar, a encontrar local para se abrigar à noite ou em temporais e se esconder com facilidade quando necessário. Em uma noite de temporal quando estava em meio a um treinamento, caçando um monstro que estava atemorizando as redondezas de onde seu clã havia parado para descanso depois de uma longa viagem, a sua mestra foi ferida por um monstro.

– E o que isso tem a ver com a história dos irmãos? - Onirê perguntou muito curioso.

– Espera um minuto. - Karen saiu em disparada para buscar uma caixa pequena de madeira, com contornos prateados e algumas inscrições, abriu com cuidado e retirou dela uma chave, foi em direção a um baú e pegou com cautela um livro muito antigo de folhas amareladas e capa de madeira forrada com couro.

– Isso só está disponível para membros avançados da Ars Magna, mas infelizmente você já está envolvido nisso, eu preciso lhe mostrar. - Ela pegou o livro, pôs em cima da mesa, abriu nas primeiras páginas e começou a ler:

“Orion avistou a fera de longe, ignorando o aviso de cautela da sua mentora atirou flechas contra o monstro sem sucesso, serviu apenas para alertar o mesmo que correu diretamente para cima dos dois caçadores, Safira com sua experiência, conseguiu uma investida rápida e feriu severamente o monstro no braço direito, foi quando o animal atordoado pela dor deu uma oportunidade para Orion ganhar uma distância para uma flecha certeira no ombro esquerdo do monstro, foi quando ele caiu rolando e fugiu, os caçadores seguiram o monstro até uma caverna grande, - grande demais - pensou a mestre – Orion inadvertidamente correu para dentro da mesma, mais uma vez ignorando o aviso dela, que foi atrás do aluno para tentar o impedir, mas sem sucesso.

Assim que entraram na caverna, sentiram uma fumaça cinza escuro nublado quase que completamente a visão dos dois, mesmo para um bom caçador que podia ver a presa mesmo em locais escuros, com fumaça era quase impossível. Safira ficou na frente de Orion para o proteger por instinto e no mesmo movimento foi acertado por um objeto pontiagudo na região do abdômen, quando ela olhou para frente com um sentido mais aguçado ela pode ver olhos imensos vindo de uma face monstruosa cor de bronze, ela pegou Orion pelo braço e saiu disparado como uma flecha em direção a saída, ela se embrenhou no meio da mata até sumir da vista da criatura de bronze, a caminho do assentamento do seu clã, mas na metade do caminho ele vacilou e caiu por conta do ferimento que até então ela não havia percebido a gravidade. Orion procurou uma clareira para passarem a noite seguros, fez uma fogueira para manter os animais selvagens à distância e lá passaram a noite. No dia seguinte ele partiu em disparada para procurar ajuda.

Partiram caçadores e curandeiros atrás da Safira, encontraram-na e a levaram para o assentamento, lá fizeram todo o tipo de coisa para curar o ferimento, passou uma semana e o ferimento não cicatrizou, foi então que perceberam que não era um ferimento qualquer, foi feito por um objeto mágico não identificado e agora todos do Clã preocupados com o ferimento da sua sacerdotisa e caçadora e em ter um fim semelhante destinaram caçadores para pesquisar objetos que tenham tal poder. Eles sabiam que um uma criatura monstruosa estava por trás disso, mas não sabiam qual, alguns que se arriscaram em retornar à caverna indicada por ele não voltaram.

Orion movido por uma culpa de ter desobedecido a mestre e pela ambição de proteger os membros do Clã decidiu partir em busca de ajuda para não só ajudar a mesma, mas também saiu em busca de um local seguro para enfim formar a cidade que o Clã tanto almeja.”


– Então… as ruínas que vocês estão pesquisando… - Onirê começou a falar, mas foi interrompido

– Sim, pelos registros que encontramos, foi a cidade criada pelo Clã das Folhas, mas não sabemos exatamente como foi que os moradores sumiram, mas é essencial descobrirmos, pois podemos ter um fim semelhante se não nos prepararmos com antecedência.

– Se preparar para que exatamente.

– Há um rumor dentro da Ars Magna que um dos membros que foi expulso está tentando trazer o Ícelo de volta.

– Como assim trazer de volta?

– Não se tem muita informação sobre essa história, mas tem isso aqui:

Karen começou a folhear o livro mais pra frente, até chegar em uma página de folhas negras e letras brancas:

“O 3 irmão viviam em harmonia nas Terras Oníricas, cada um tinha o controle sobre uma parte das terras, Ícelo era protetor das criaturas e animais, Fântaso tinha protegia os objetos inanimados, rios e plantas, Morfeu por sua vez tinha o dever de proteger todos os humanóides das Terras Oníricas, juntos eles faziam a manutenção de todo o  reino, mas em algum momento da história, Morfeu e Ícelo se apaixonaram pela Urânia, a senhora das estrelas, os dois acabaram travando uma grande batalha que acabou por quase destruir todo o reino, para que isso não acontecesse, Fântaso foi até o seu pai pedir ajuda dos dele para acabar com a disputa, Somno definiu então que os 3 deveriam perder seus avatares, eles iam continuar existindo, mas sem poder assumir a forma humana, Fântaso para evitar o seu fim e o fim de seus irmãos, decidiu no processo selar o poder dos 3 em objetos para que um dia eles possam retornar.”

– Dizem que isso é uma lenda, alguns dizem que é verdade, mas o que você descobriu são evidências que levam a crer que é tudo real.

Onirê ficou paralisado por um tempo.

– Você está bem? - Perguntou Karen preocupada

– Estou, mas se isso for verdade, e conseguirem fazer o Ícelo voltar?

– Estamos investigando justamente para impedir que outras pessoas o façam, nosso é parte do nosso trabalho fazer a manutenção do reino Onírico em Honra aos 3 Irmãos, mas caso um deles volte, não temos como prever os danos que isso pode gerar.

– Mas eu não entendi como essa história se liga com o Orion. - Questionou Onirê.

– Na constelação de Órion, há 3 estrelas que chamamos de “Cinturão de Órion”, segundo a lenda essas estrelas simbolizam os 3 irmãos.

– Então, o que vamos fazer?

– Agora você precisa ir até a Thainá e pegar a caneta, precisamos investigar.

– E você pretende envolver a Ars Magna nisso?

– Por enquanto não vou falar nada, mas vamos precisar de ajuda.

– Você não acha que devemos tomar cuidado, se um antigo membro está tramando algo, temos que ficar atentos. - falou Onirê.

– Sim, por isso vou ver quem posso pedir ajuda, enquanto você pega a caneta.

– Certo, agora vou pra casa, minha mãe está esperando, em breve volto com notícias.

– Combinado.

Karen guardou o livro com muito cuidado, trancou o baú e guardou a chave no armário onde ela pegou, levou Onirê até a porta e se despediu com um abraço.

– Obrigado por confiar em mim.

Onirê sorriu.

terça-feira, 20 de maio de 2025

Capítulo 21 - Sabendo a Verdade

 

Capítulo 21 - Sabendo a Verdade 

Era uma manhã ensolarada quando Onirê acordou em sua cama, em um bairro de subúrbio de uma cidade mediana, não tão grande a ponto de ser metrópole, nem tão pequena a ponto de ser um sítio, havia locais da cidade bem desenvolvidos, e outros não tão desenvolvidos assim, ele vivia em uma região também mediana, não era grande o suficiente pra ser um bairro nobre, nem distante o suficiente para ser um distrito, tinha acesso a todos os locais da cidade quando desejasse por conta da facilidade de encontrar condução, mas nem sempre era tão rápido quanto gostaria, aquele dia em específico estava bastante disposto, arrumou suas coisas e foi para o colégio.

Lembrava que precisava saber de quem eram as vozes que ouviu no dia anterior e também tinha que buscar ajuda para descobrir mais sobre a chave seguinte que não fazia ideia do que significava.

– E aí, cara, está melhor? - Okedirá veio falando de longe.

– Ah!! E aí, eu estou bem, minha vida anda um pouco agitada só, foram muitas mudanças em pouco tempo.

– Entendi, quando eu cheguei aqui fiquei um pouco perdido também, mas você se acostuma fácil, vem, vou te mostrar o pessoal.

– Pessoal?

– É, não ando com muita gente, mas tenho minha galera. - Chega mais.

Eles caminharam em direção ao pátio, em um banco grande de pedra que ficava próximo à cantina havia um rapaz, forte, alto, um pouco acima do peso, pardo, com um caderno de desenho na mão e uma caixa de lápis ao lado, que não parava de rabiscar, do outro lado uma menina de olhos negro, baixa, cabelo liso ondulado, com os olhos um pouco puxados, e pele branca como papel, mechendo em um notebook, bem concentrada.

– Fala, galera, esse é o Onirê, o mano que eu falei pra vocês, Onirê esses são o Magno e Bruna, Ele tem um dom curioso de desenhar muito bem, mas às vezes não ouve o que a gente tá dizendo, porque ele não larga o caderno, a Bruna, enfim, melhor você a conhecer por você mesmo.

– Obrigada, Okedirá, - E olhou em tom ameaçador para ele - Olá Onirê, gosta de música?

– Bastante, ouço de tudo um pouco.

– Não amole o cara, acabou de chegar, deixa ele se acostumar com a gente primeiro, ei Onirê, dá uma olhada nesse desenho se ficou legal.

Okedirá riu e pôs a mão no rosto em tom de desaprovação.

– Vocês são péssimos.

Enquanto eles conversavam, Onirê ouviu novamente a voz que tinha escutado vindo da diretoria, olhou para trás rapidamente para ver quem era, o rapaz olhou de volta para ele, com uma expressão bem séria, mas continuou conversando com um dos professores, e saiu do campo de visão deles.

– Quem é aquele cara barbudo que conversava com o professor de matemática? - Perguntou.

– Aquele é o Ricardo, é um dos sócios do colégio, mas não vem muito aqui, quem passa muito tempo aqui é o Sr. F.

– Effe? - Perguntou sem entender.

– Não, Senhor F. - Ele tem nome, mas ninguém lembra porque, só chama ele assim, e ele não liga, em algum momento você vai o conhecer, pode apostar.

Um tempo depois de conversarem, deu a hora da aula, correu tudo normal, Onirê ainda estava tentando se acostumar com o silêncio, mas até que gostava, conseguia se concentrar melhor, depois da aula eles se reencontraram no pátio, e se despediram e foram pra casa, no caminho Onirê pediu pra mãe dele o deixar na loja da Karen.

– E aí, como estão as coisas? - Perguntou ela assim que ele entrou.

– Preciso da sua ajuda. - falou em tom firme.

– Você sabe que temos que seguir a Ordem né? - Ela o advertiu.

– Acho que isso é extracurricular. - Ele a chamou para sentar, e contou tudo que havia acontecido com ele no santuário da Lua.

– Você pode anotar aqui exatamente como estava escrito a frase em cima da porta do Santuário? - entregou um papel e caneta para ele.

anotou: “É aqui que se descobre o F I M”,

– Tem certeza que estava escrito dessa forma? - ela perguntou curiosa.

– Sim tenho, não tem como esquecer, foi a última coisa que eu lembrei antes de apagar.

– Então isso é um jogo de palavras, as letras juntas formam uma palavra, mas com esse espaçamento pode significar uma sigla.

– Como assim uma sigla? Será que tem a ver com o outro tempo? - nisso ele contou como foi resgatado pelo gorila e como voltou para lá com Thainá.

– Você acha que pode confiar nessa tal Thainá? - Karen parecia muito receosa, sabia como as pessoas que trabalhavam fazendo essas explorações eram, e não gostava da ideia de Onirê por aí, se aventurando com outra mulher.

– Sim, ela me ajudou muito, sem ela não teria conseguido traduzir o pergaminho, nem entrar no santuário, muito menos descobrir que se tratava do santuário do deus Fantasus. - falou empolgado.

– Espera, você disse Fantasus? - Karen pegou o papel, e começou a rabiscar.

– O que você está fazendo?

– Quando você descreveu a estátua, eu havia pensado em várias divindades que poderiam se relacionar com criaturas monstruosas, mas a estátua de Fantasus estar ligada a anterior não me parece uma coincidência.

– Sim a Thainá falou algo sobre Terra Onírica, que estava escrito na abóbada do santuário.

– Existem três irmãos que são considerados os filhos do Somno, eles são o Fobetor, Fântaso e Morfeu.

– Sim, mas o que isso tem a ver com esses rabiscos da sigla aí que você está fazendo, nenhum deles tem I no nome.

– Acontece que no Olimpo, o Fobetor é conhecido como Ícelo. - Concluiu a Karen

Fântaso, Ícelo, Morfeu.

F I M


domingo, 18 de maio de 2025

Capítulo 20 - Em um improviso

 

Capítulo 20 - Em um improviso 


        
Não havia como ter dúvidas, logo que chegaram no local, Onirê percebeu que não era o mesmo lugar, a estrutura era semelhante, colunas grandes de mármore sustentavam um local que era claramente um santuário, ao invés de uma porta negra que fazia o lugar parecer um mausoléu, havia na porta uma pintura de um rapaz belíssimo, cercado de 4 mulheres e 9 outras mulheres estavam representadas num céu estrelado, foi a pintura mais linda que ele havia visto, Apolo, Os astros e as musas, tudo se encaixava como o pergaminho indicava.

– Não foi esse lugar que estava aqui quando eu vim ontem.

– Foi o que eu disse, o que você descreveu é completamente diferente.

– Sim, no outro tinha uma inscrição traduzida, logo em cima da porta: É aqui que se descobre o fim. Como isso é possível? - Onirê perguntou confuso.

– Eu tenho uma suspeita, mas precisamos entrar aí para confirmar. - Thainá pôs a mão na bolsa, puxou o pergaminho, pegou o papel onde havia transcrito a tradução, e começou a ler. - Certo, como foi que você fez para abrir da outra vez?

– Eu não precisei fazer nada, a lua refletiu em um fragmento brilhante na estátua, e a porta abriu, o pergaminho indicava o possível horário.

– Então, O Sol ao acordar é na aurora, mas não há nada para refletir aqui, então como fazemos para entrar?

Onirê sabia que o horário estava certo, o sol “Acorda o mundo” pela manhã, mas “O espelho foi embora”, ou seja, a lua foi embora.

– O templo está de costas para o Sol nascente. - falou depois de muito pensar.

– Sim, eu já percebi.

– No outro poema o espelho era a lua.

– Esse poema diz que “Quando o espelho vai embora que ele vê sua beleza”.

– Sim, a luz dele toca todas as coisas, e é assim que ele se vê, sem a luz dele para colorir o mundo, não dá para ver a beleza.

– Mas não está tocando a pintura. - Thainá já estava ficando irritada, porque o tempo estava passando.

– A pintura não é ele, é só uma pintura, se o espelho real foi embora, talvez ele precise de um “espelho falso”. - Me dá sua adaga, Onirê falou estendendo a mão para Thainá.

– O que pretende fazer? - não dá pra fazer isso com a adaga, ainda está muito cedo.

– Precisamos improvisar - Onirê correu em direção a uma árvore que ficava em frente ao santuário, subiu o mais alto que pode, e tentou refletir a luz do sol com a lâmina da adaga em direção ao rosto da pintura de Apolo na porta.

Ouviu-se um barulho muito alto de engrenagens, e lentamente a porta pesada de mármore começou a se abrir. Thainá estava boquiaberta.

– Olha garoto, até que você não é inútil, já entendi porque o Zen gostou de você.

Onirê desceu da árvore rapidamente, e juntos entraram na câmara, mas dessa vez devagar para não cair em outra armadilha. Assim que entraram deram de cara com uma inscrição: Δήμος Ονείρου na parte mais alta da abóbada da Câmara.

– Aquilo também estava escrito no outro templo, consegue ler?

– Sim, está escrito Terra dos Sonhos. - Falou Thainá sem piscar, olhando diretamente para a estátua que estava na frente deles, era um rapaz jovem, no centro de uma fonte de água cristalina, com vários objetos decorativos ao lado, tocando uma Harpa, havia duas árvores atrás dele, havia dois recipientes em forma de tigela no chão, um a sua esquerda que continha frutas e outro a sua direita, que continha uma caneta tinteiro ornamentada.


Thainá a pegou, era feita de marfim, havia uma inscrição nela: Αιωνίστε τις στιγμές

– Está escrito: Eternize momentos.

Pôs na bolsa para investigar melhor depois.

– Essas frutas parecem deliciosas, mas não me atreveria comê-las, ainda estou me recuperando da última aventura em câmaras estranhas.

– Quem é esse na estátua? O outro estava cheio de monstros ao redor e estava com uma cara horrível, esse parece estar feliz, cheio de objetos legais ao redor.

– A situação é pior do que eu imaginava, se estava traduzida a inscrição do outro santuário, significa que alguém já esteve lá, esse ainda se reserva intacto. Pela inscrição na parede, e pelos objetos ao redor, se trata de Fantasus.

– Fantasus, nunca ouvi falar dele.

– Ele não é muito conhecido, mas é extremamente poderoso, acredito que não haja armadilhas aqui, então… - Ela abaixou, pegou uma maçã e comeu.

– NÃO FAZ ISSO, TÁ MALUCA - gritou Onirê.

Thainá sentiu seu corpo inteiro vibrar e um arrepio muito forte a fez tremer um pouco.

– Me sinto melhor do que quando entrei, deve ter propriedades curativas, é exatamente o que você está precisando. - Pegou uma das frutas e entregou a Onirê.

Relutou um pouco antes de comer, mas decidiu dar um voto de confiança dessa vez.

– O que você lembra da outra câmara? Havia inscrições como aquelas ali nas paredes?

– Não tive tempo de explorar, assim que peguei no pergaminho eu apaguei. - preferiu não dar detalhes do sentimento horrível que o trespassou durante o processo. Quando virou para pegar mais frutas, reparou em uma ampulheta que estava posicionada atrás da estátua. - Aquilo já estava alí?

– Provavelmente, a areia já está na metade, deve ser o tempo que temos para ficar aqui dentro, temos que nos apressar. - Ela correu para a parede onde havia inscrições e começou a tentar traduzir o mais rápido que conseguia.

 

Brilhando imponente a sua espera
 No dia marcado do encontro
 Ela aparece bem singela
 E visível vai ficando

O dia aos poucos vira noite
 Mas apenas por um instante
 Assim se revela a ponte
 Eis a Forma em sua Fonte

 

– Pronto, conseguimos. - Onirê já havia se recuperado devido às frutas curativas, e estava ao lado de Thainá ajudando na tradução, foi quando ouviram as engrenagens.

– O TEMPO - Gritou Onirê.

Os dois saíram correndo em direção a porta, Thainá foi primeiro por ser mais alta, e Onirê foi logo atrás, passou quase se espremendo pela imensa porta de mármore.

            – Chega de Aventuras por hoje - Falou Thainá pegando na mão de Onirê e levando em direção à trilha de volta para a casa.

            – Não precisa disso, eu quero ir pra casa, nem precisa forçar.

Chegando na casa de madeira, os dois sentaram no sofá para descansar.

            – Temos uma Caneta, e provavelmente a próxima chave. - Thainá falou como quem estivesse acostumada a contar espólios.

– Certo… - Falou Onirê achando a naturalidade dela estranha. - Mas eu preciso ir, vou para quarto. Esme me ensinou um caminho seguro.

Ao ouvir aquele nome, Thainá gelou.

            – Você falou o quê?

– A Esme me ensinou uma passagem segura, para ir pra casa, o que houve?

Os olhos de Thainá lacrimejaram, ela escondeu o rosto rapidamente.

– Bem, preciso ir. Quando você vier aqui novamente estarei esperando - Saiu sem dar espaço para perguntas.

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Capítulo 19 - Revelando o Pergaminho Sagrado

 

Capítulo 19 - Revelando o Pergaminho Sagrado


         Onirê
 se levantou com dificuldade do sofá, ainda estava debilitado depois da péssima experiência que teve na câmara, foi até o gorila e o alisou.

– Foi você quem me salvou né? Vou lhe chamar de Kong.

O gorila assentiu, e abaixou a cabeça, como um sinal de respeito.

– Bem, agora preciso ver o que a Thainá está aprontando.

Foi em direção ao alçapão e começou a descer as escadas que dão acesso ao laboratório, se movia ainda com dificuldade, o corpo estava fraco, mas estava curioso em saber o que aquele pergaminho continha de tão valioso para estar tão bem protegido.

– Então o que tem nele?

– Você ainda não deveria estar se movendo, tem que ficar em repouso, sente aqui - Puxou uma cadeira e pôs Onirê sentado, enquanto voltava para a mesa para analisar o pergaminho. - Ainda estou traduzindo, está em Grego antigo, preciso de um tempo até concluir, mas há uma imagem. e a frase inicial diz: O mundo é algo vivo e luta para atingir a perfeição que é Deus.

– E o que isso significa?

– Precisamos traduzir o resto do pergaminho, é apenas um fragmento, você sabe grego antigo?

– Claro que não, ainda estou no ensino médio.

Thainá deu de ombros, foi até um pequeno armário, pegou um Bico de Bunsen - um pequeno artefato que parecia uma mini boca de fogão usado em laboratórios - pegou um recipiente de vidro, misturou algumas soluções dentro dele, colocou algumas plantas, e quando ferveu, colocou a mistura em uma xícara.

– Beba!

– O que é isso?

– Uma mistura de ervas para fazer você se recuperar mais rápido, suas energias foram quase que completamente drenadas, e agora me diz, onde exatamente você estava?

Onirê começou a descrever a Câmara de mármore que havia encontrado ao sul da floresta.

– Mas isso não está certo, não é essa câmara que está lá.

– Como assim?

– A Câmara que está lá é uma câmara diferente da que você descreveu, e ela não foi aberta. Eu e o Zen fizemos de tudo para abri-la, mas todas as tentativas foram em vão, chegamos a conclusão que ela é um pequeno santuário dedicado a Apolo, e que você descreveu claramente é um dedicado a Ártemis.

– Mas com é possível haver duas construções diferentes no mesmo lugar?

– Não é, isso significa que você estava em outro lugar, mas não sei onde. porque conheço toda essa região e não há outro santuário além do que eu lhe descrevi.

– Vamos lá então, eu te mostro - Ao dizer isso, Onirê sentiu um frio no estômago e um pequeno arrepio.

– Não, você precisa descansar, depois podemos ver isso com mais calma, agora eu preciso terminar de traduzir o resto do texto. - Thainá falou calmamente, percebendo a tensão dele, ao lembrar do ocorrido.

Os dois passaram um bom tempo lendo o texto, Thainá fazia a tradução acompanhada com alguns livros em gregos, um dicionário e outros textos para fazer paralelos e ter uma tradução mais fiel possível do texto original.

O Grande magnetizador
 Repousa em seu manto noturno
 O Mestre das artes do amor
 Colore o mundo Diurno

Ao levantar acorda o mundo
 Com sua visita passageira
 Quando o espelho vai embora
 Que ele vê sua beleza

– Acho que consegui traduzir, é um poema, mas parece querer dizer algo.

– Sim, é parecido com o outro que me deu acesso à câmara.

– É UMA CHAVE. - falaram juntos em uníssono.

– Precisamos ir lá para abri-la.

– Despreparados? Alto lá rapazinho. - Precisamos investigar essa imagem, não parece haver relação com o texto.

– Mas parece que não tem nada que mostre o que ela significa. - Onirê se levantou para tentar olhar o pergaminho mais perto, mas com o corpo ainda debilitado se desequilibrou e deixou a xícara cair em cima da mesa por estar muito quente, o líquido caiu inteiro em cima do pergaminho.

– O QUE VOCÊ FEZ? - gritou Thainá.

Para a surpresa de ambos, o pergaminho não molhou, quando ela o retirou da meleira que Onirê havia feito, o pergaminho estava intacto, mas curiosamente havia aparecido uma inscrição embaixo da imagem, mas demorou um pouco e a inscrição apagou.

– Você viu aquilo?

– Sim, mas apagou novamente.

Thainá pegou o líquido com um pano, e passou devagar em cima do local onde havia aparecido a inscrição, mas não surtiu efeito.

– O que tem de diferente?

– Eu deixei cair porque estava quente.

– Calor!

– Ela pegou o pequeno fogão portátil, o acendeu e aproximou o pergaminho novamente, e curiosamente as letras voltaram a aparecer.

– O que tem escrito?

– Calma, também precisamos traduzir.

– Ela pegou uma caneta e transcreveu em outro papel.

Demorou um pouco e falou.

“A Harmonia das Esferas”

– Será que tem mais algo escondido?

Ela pegou o pergaminho e foi encostando no fogo novamente, buscando mais algum segredo.

Foi quando mais letras foram aparecendo por toda a imagem.

– São musas, os astros e Apolo. - Concluiu Thainá. - A situação mudou, temos que ir para o santuário imediatamente.

– O que aconteceu?

– Se isso é o que eu penso que é, temos que descobrir imediatamente se tem alguém por trás de tudo isso.

– Fique aqui por um momento. - Ela foi até um armário, pegou um frasco de vidro dessa vez puro. - Volto em alguns minutos. Falou subindo a escada correndo.

Onirê nem pensou em a acompanhar, continuava muito desgastado, foi devagar até a mesa e continuou a analisar o pergaminho, ficou intrigado com o que havia feito ele desmaiar, o misterioso objeto ficava quente na mão dele, e  tinha certeza que não foi o objeto que drenou suas energias, algo parecia não se encaixar.

Minutos depois Thainá volta com o frasco cheio.

– Beba.

– Calma aí, o que é isso?

– Água da fonte sagrada, vai lhe dar energia ao menos pra poder me acompanhar, acho surpreendente o fato de ter conseguido abrir o santuário, eu não estou muito satisfeita com a ideia, mas eu preciso de você.

Onirê olhou pra ela sorrindo.

– Ah! Agora você precisa de mim?

– Anda logo garoto, não temos tempo a perder.

Onirê riu e ao beber a água do recipiente sentiu um calor percorrer por todo seu corpo, era como se tivesse tomado um chá bem quente, o corpo foi esquentando e começou a suar pela temperatura elevada do mesmo. Aos poucos foi ficando com mais vigor.

Aguarde aqui enquanto eu pego meu equipamento.

Ela voltou um tempo depois com uma bolsa presa à perna, uma adaga presa na outra coxa, vestia um Jeans curto, uma regata vinho, e um colar dourado fino com uma pequena pedra rubra como pingente. usava um bracelete dourado no braço direito. Admirou a beleza dela por um momento.

– Ei? Foco, vamos!

Ele estava como se vestia quase sempre, calça jeans, all star e uma camisa preta sem estampa.

“Preciso melhorar meu guarda-roupas, pensou”

Saíram da casa e foram em direção a trilha que Onirê havia ido mais cedo, era quase manhã.

– Você disse que dentro da câmara que você entrou havia a estátua de um homem, certo?

– Sim, com um animal que parecia ser uma Quimera do lado esquerdo, e uma serpente de várias cabeças do lado direito. Porque?

– Estou com um mal pressentimento, eu e o Zen imaginamos que era um santuário dedicado a Apolo quando o encontramos, e era o que tudo indicava, mas se o que você encontrou não era um dedicado a Ártemis, como aparenta por fora, isso significa que esse também não é dedicado a Apolo, e se não é a Apolo, a quem seria?

Quando chegaram próximo ao local que Onirê havia visitado, ele sentiu novamente a sensação de “atravessar” uma cortina.

– Você sentiu isso?

– Isso o quê? perguntou Thainá intrigada.

– Uma sensação estranha.

– Você está cansado.

– Não é isso, também senti essa sensação da última vez que estive aqui. foi como se eu tivesse atravessado alguma coisa.

Ela olhou para ele intrigada.

– Depois você me fala mais sobre isso, vamos adiantar.

Seguiram em frente até chegar no santuário.


quarta-feira, 14 de maio de 2025

Capítulo 18 - A descoberta do FIM

 

Capítulo 18 - A descoberta do FIM 

Onirê ficou correu para a porta para ver onde a Thainá tinha ido, foi quando percebeu que já havia anoitecido, nunca tinha visto aquele local daquela forma, o Gorila estava como uma sentinela, andando ao redor da casa, observando cada movimento estranho vindo da floresta, quase sempre eram pássaros que se movimentavam e faziam barulho nas árvores, era tudo muito bonito, as estrelas iluminavam todo o ambiente, ele nunca tinha visto o céu tão estrelado como aquele, uma lua cheia majestosa e imponente brilhava como um Sol noturno, iluminando o ambiente de uma forma que ele chegou a se impressionar como dava pra enxergar tudo tão nitidamente mesmo sem auxílio do fogo, resolveu sair da casa para observar melhor como o ambiente era diferente a noite, quando um vento forte passou e ele percebeu o quanto estava frio, parecia inverno, o corpo tremia, foi quando ele lembrou do treinamento que fez com Za’tar e começou a se concentrar, o corpo foi se aquecendo e ele parou de tremer.

Um vagalume passou próximo ao seu rosto, e ele o seguiu com os olhos, quando o vagalume pousou num tronco de árvore, ele percebeu que havia vários outros, formando uma nuvem de luzes em direção ao Sul da floresta.

            Era sobre os 3 irmãos, criadores desses universos. Existem várias lendas e teorias, nenhuma delas dão respostas muito claras, mas ele dizia que precisava saber mais sobre essa história, por conta do que ele descobriu em uma construção antiga que fica ao Sul daqui.



             A lembrança da conversa com a Thainá veio forte na mente dele, e  seguiu em direção aos vagalumes, conforme foi se aproximando os vagalumes iam se afastando, mas uma nuvem deles continuavam entrando na floresta, e os seguiu, era um terreno acidentado, difícil de andar, muitas raízes grandes dificultavam as passadas, foi prosseguindo com dificuldade, até chegar num momento que sentiu como se tivesse atravessado uma cortina, o corpo dele se esbarrou em alguma coisa que não via, mas sentia atravessando o corpo, algo que parecia água, mas não molhava e nem tinha temperatura. Depois da sensação estranha, voltou a atenção para os vagalumes que estava seguindo, mas o que viu não foi vagalumes, foram pequenas borboletas de diversas cores, com asas que brilhavam, algumas em tons verdes, outras vermelhas e outras poucas em tons azuis. Continuou seguindo-as, até o ponto onde encontrou uma estrutura que parecia um mausoléu.


Era uma estrutura grande, toda em mármore branco, com diversas inscrições em grego na parte de cima da porta, havia um escrito traduzido na parte de baixo, certamente tendo sido escrito posteriormente. “É aqui que se descobre o F I M”, Onirê parou, pensou duas vezes se ia entrar depois de ter lido aquela mensagem que soou como uma advertência, mas não notou nada perigoso então resolveu continuar. Quando chegou perto da porta, para sua surpresa ela não abriu, resolveu então dar a volta no ambiente e continuar explorando, o que sustentava a estrutura eram colunas de mármore, algo feito com muita perícia, era muito bonito.

Uma das borboletas passou próximo do seu rosto novamente, novamente seguiu com os olhos, ela tinha um tom azulado, foi quando ela começou a voar em círculos, para sua estranheza, quando chegou perto ela seguiu em direção à frente da estrutura, ficou parado observando, e ela voltou a voar em círculos, voltou a seguir, e ela continuou a voar desta vez em direção ao pé da coluna que ficava à esquerda da porta, e pousou.

Quando Onirê chegou perto dela, ela voou, mas deixou a mostra um símbolo de uma Lua, e embaixo havia umas inscrições em grego, mas bem sujas de terra, limpou pra ver se identificava alguma coisa, quando notou que também havia algo traduzido em baixo, novamente parecia algo feito posteriormente.

“No céu o Espelho brilha
 A Luz ilumina a floresta
 Ao chegar espere a hora
 Se puder não tenha pressa

Se a conquistar
 Ao chegar no ponto Alto
 Uma brecha se abrirá
 Terá o segredo revelado”

– Um poema, mas parece indicar alguma coisa - falou em voz alta. Ele sentou no chão e resolveu tentar entender o enigma.

Depois de um tempo resolveu ir até ao pé da coluna da direita, mas para sua surpresa havia apenas o texto em grego, sem tradução, ficou um tempo tentando entender o que fazer, mas já estava cansado, o frio estava o desconcentrando, a pesar de ter aprendido a técnica, quando não prestava atenção no corpo, o frio voltava e levava um tempo até voltar a aquecer o corpo novamente, quando finalmente parou de tremer a borboleta azul passou novamente em frente ao seu rosto, e percebeu que não era uma borboleta, parecia um pequeno ser humano, com asas de borboleta, mas passou tão rápido que não conseguiu distinguir os detalhes, a criatura voou em direção ao céu, foi quando a Luz da lua refletiu direto em seus olhos. “A Luz da lua não é dela, é do Sol, ela é o espelho” - pensou, e voltou ao poema para ler novamente.

– Certo, ponto alto, a hora deve ser meia noite, quando a lua chegar no seu ponto mais alto - Correu para frente da estrutura, não estava com relógio, mas percebeu que quando ficava na frente exata da construção de mármore, dava pra ver a lua quase alinhada com uma estátua em cima dela.
 Era uma mulher.

– Se a conquistar… - pensou em voz alta.

Quando a Lua e o Arco que a Estátua segurava se alinharam, a luz dela refletiu na ponta da flecha, que refletiu no meio na porta de mármore, fazendo a porta abrir, revelando uma câmara com uma outra estátua no centro. Onirê se animou por ter acertado o enigma e correu para entrar na Câmara.

Quando entrou, deu de cara com uma inscrição: Δήμος Ονείρου na parte mais alta da abóbada da Câmara, não sabia do que significava. Olhou com mais atenção para a estátua no centro, era um homem, muito bonito de vestes longas, com um olhar assustador, ao redor dele, várias criaturas monstruosas o acompanhavam, um Leão com Asa de Águia, calda de Escorpião, patas traseiras de bode, urrava imponente a sua direita, e uma Hidra com 9 cabeças quase parecia se mover a sua esquerda. Em sua mão direita havia uma Máscara, e em sua mão esquerda havia um pergaminho. Onirê se aproximou e pegou o pergaminho, foi quando tudo escureceu.

Ele ouvia gritos, pedidos de socorro, mas não conseguia enxergar nada, tentava correr, mas seus pés não se movia, tentava gritar mas sua voz não se ouvia, tentou de tudo para sair dali, mas nada parecia surtir efeito, sentiu como se formigas tivessem começado a subir pelo seu corpo, mas não conseguia fazer nada para as impedir, ouvia latidos ao longe, uivos, aves gralhando, e aos poucos foi ficando sem ar, estava perdido na escuridão, não havia luz, não havia forma, sentiu um medo tão forte que seu corpo começou a tremer, não conseguia mais identificar se era frio ou simplesmente o medo mais aterrorizante que sentiu na vida, começou a cair, uma queda que parecia não haver fim, um frio no estômago como quem está prestes a chegar ao chão, mas o chão nunca vinha.

Sentiu algo forte o segurando no braço, e sentiu o seu corpo ser arrastado, começou a se lembrar da inscrição, em cima da porta da câmara, sua consciência se esvaiu e apagou.

Um aroma forte de perfume o acordou e respirou como alguém que tivesse acabado de sair de um afogamento, recobrou a consciência, estava deitado no sofá da casa do Zen, Thainá com um frasquinho de vidro numa mão, uma pequena rolha na outra, com um olhar de preocupação e o gorila enorme logo atrás dela sentado.

– Noite intensa, docinho? - Falou Thainá rindo.

– O que aconteceu? - Perguntou Onirê com a voz falha e muito fraca.

– Aconteceu você fuçando onde não deveria. - respondeu ela. - E quase você não estaria aqui pra me contar onde você encontrou isso mostrando o pergaminho.

– Encontrei na mão de uma estátua. - respondeu.

– E você achou sensato pegar? - Questionou ela, preocupada.

– Eu tinha acabado de descobrir como entrar lá, não imaginei que teria problemas.

– Eu te avisei que aqui não era completamente seguro, a casa é segura, porque foi feita assim, mas a floresta não, tem todo tipo de criatura por aí.

– Enfim, descanse para aguentar a viagem de volta pra casa, do jeito que está não vai a lugar nenhum, vou dar uma olhada melhor nisso e depois conversamos. - Respondeu ela levantando e indo em direção ao laboratório no porão.