sexta-feira, 21 de março de 2025

Capítulo 01 - O Passeio no Parque

 


Prólogo


Do fruto do amor de dois Primordiais - seres ontológicos, existentes desde a aurora dos tempos - nasceu um espírito encarnado capaz de unir as habilidades dos dois.

            A cada 600 anos a maioria dos astros se reúnem em torno da constelação de Capricórnio, quando isso se acontece, o velho e o novo convergem fazendo nascer um novo Ser capaz de comportar tal espírito, este ser, sendo possuidor de diversas habilidades vaga pelo mundo em busca da sua contraparte, seja masculina, seja feminina, todos os atributos e habilidades do mesmo são herdadas dos primeiros pais, porém todas as memórias são perdidas.

A missão da contraparte dele, é fazer com que toda sua memória seja restabelecida para que ele através de seus conhecimentos herdados e com o auxílio do clã possuidor do conhecimento antigo, possa apaziguar a mãe terra novamente, que volta e meia se enfurece com a falta de respeito das gerações que ousam a desafiar.

            Estamos a 7200 anos depois da última vez que a mãe terra se enfureceu, estamos no ano de 2200.

  


Capítulo 01 - O Passeio no Parque

Akin não entendia muito bem porque o mundo era como era, vivia se questionando sobre o porquê do mundo ser tão desigual e também não entendia porque os Deuses, se é que eles existem, permitiam tanto sofrimento, era jovem, saudável, vivia com sua mãe em um bairro do subúrbio de uma cidade metropolitana. Ela não era muito presente por estar constantemente trabalhando para sustentar as despesas da casa, mas fazia o possível para oferecer uma boa educação.

Um ao sair para tentar aliviar a ansiedade foi para a área verde da sua cidade, o único lugar que conseguia encontrar paz no meio do constante tom cinza que a cidade o oferecia com suas turbulências.

            Entrou no Parque da Cidade e foi caminhando em suas trilhas, sentiu uma dor de cabeça que não era de costume, em determinado momento a dor ficou tão forte que decidiu sentar num banco de pedra, para descansar um pouco, depois de um tempo parado ouviu uns barulhos estranhos vindo de trás de onde estava e ficou curioso em saber do que se tratava, conforme ia entrando nos matos o caminho ficava cada vez mais estreito, a ponto do sol não conseguir mais entrar em alguns locais, foi quando achou uma nascente de um rio de água cristalina e decidiu beber um pouco, já havia esquecido da dor até que tomou um susto quando virou e viu um velho de barba grande, cabelo crespo e grande, de roupas simples sentado num gramado num local da mata que parecia ter se afastado propositalmente formando um círculo.

            O velhinho o olhava rindo com a estranha e feliz aparência de quem já estava esperando uma visita. Conforme se aproximava do senhor, passou a ter uma sensação estranha de estar enxergando duas cores flutuantes no ar, uma avermelhada e outra azulada, quando focava na cor azul, sentia uma brisa leve e uma sensação de paz, quando focava na cor vermelha, sentia a dor de cabeça aumentar mais e mais.

            – Olá garoto, porque não se senta? - falou o velhinho estendendo a mão.

            – Olá - Respondeu meio inseguro, quando apertou a mão do velhinho, as cores sumiram do ar, achou estranho, mas se sentou.

            – Meu nome é Zen, qual o seu, meu filho?

            – Meu nome é Akin, o que você está fazendo aqui?

– Ainda não chegou o momento para eu sair daqui, e o movimento da cidade não me faz muito bem.

            – Ah! Eu entendo o senhor, o que eram aquelas cores flutuantes?

             Zen olhou intrigado para Akin, hesitou por um momento e depois tornou a falar.

            – Eram espíritos, mas poucas pessoas são capazes de os escutar e quase nenhuma, capaz de vê-los.

            – Espíritos existem?? - Akin perguntou muito surpreso.

            – Existem, mas esse termo está turvo demais para ser devidamente compreendido.

            Akin estava surpreso, confuso, e muito curioso.

            – E isso significa que Deuses existem?

            – Existem - Zen respondeu rindo. – Mas é outro termo que foi ficando cada vez mais complicado de se entender conforme o tempo foi passando.

            – E porque eles permitem que o mundo esteja desorganizado como está?

            – Porque quem o desorganiza são as pessoas, eles apenas observam, e tentam guiá-las da forma que podem. - Respondeu zen num tom bem triste.

            – E porque as pessoas fazem isso?

            – Por conta da forma que elas interpretam os espíritos que você viu a pouco, jovem.

            – Como assim? - Akin perguntou confuso.

            – Os espíritos podem ser interpretados como energias que estão ao nosso redor, alguns têm um acesso direto a nós, outros não, depende da forma que se vive, eles ficam mais fortes conforme se dá mais atenção, por isso alguns deles costumam tentar nos contatar com uma certa frequência, outros só estão disponíveis se você for até eles, e podem ser alimentados por palavras e  ações.

            – E não tem como escolher só as coisas boas?

            – Sim, tem, mas depende da forma que você vive.

            Akin ainda cético, continuou a perguntar, para entender melhor aquele senhor misterioso de nome esquisito.

            – Como assim? Não seria mais fácil todo mundo viver certo?

 Zen riu da inocência de Akin e tentou explicar.

            – O nosso corpo se alimenta não só de comida que ingerimos, mas também daquilo que fazemos e praticamos, conforme fazemos e falamos coisas boas, as boas energias nos cercam fazendo nossa vida mais doce e mais feliz, do mesmo modo acontece com as coisas ruins, tudo que se pratica, reflete no mundo e volta para nós de algum modo. - Zen falou gesticulando com as mãos para o fazer entender melhor.

            Ao ouvir tudo aquilo, Akin passou a ver novamente as cores no ar, e a dor de cabeça voltou.

            – E como eu faço para as pessoas entenderem isso também? - Perguntou Akin aflito.

            – Feche os olhos e respire fundo. - Zen respondeu com calma.

            Zen se levantou, se aproximou dos arbustos, colheu um girassol e se voltou para Akin.

            – Aqui, segure...Ao pegar o girassol, Akin sentiu o sol brilhar num tom mais forte, entrando pelas frestas das árvores, o pulmão enchendo de ar e foi ficando meio zonzo, ouviu alguém sussurrando no ouvido dele.

“Acorde”

            Até que despertou assustado no banco do parque, ainda confuso com o que havia acontecido, começou a se perguntar se foi tudo um sonho até que sentiu algo em sua mão.

             Era um girassol, olhou para o céu e sorriu.

 


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