quarta-feira, 30 de abril de 2025

Capítulo 13 - O Baile

 

Capítulo 13 - O Baile 

Onirê se arrumou todo, formalmente, porque não sabia exatamente o que ia ser, e com uma roupa formal ele poderia ir para qualquer ambiente festivo que imaginou que a Karen frequentaria, como não era muito comum sair para locais onde tinha que se arrumar, sua intuição lhe dizia para caprichar, escolheu a melhor combinação de roupa possível, vestes em cores monocromáticas, para ser discreto, sapatos, e saiu as 18, como indicava a carta que recebeu.

Chegou até o local indicado, era uma propriedade grande, portão ornamentado elétrico, ao chegar perto abriu automaticamente, entrou e foi em direção à casa, chegando lá havia um Segurança na porta, deu seu nome que foi checado em uma lista, logo em seguida entrou na mansão, ficou impressionado com a arquitetura, não imaginava que ainda havia casas como aquela, todos móveis eram de madeira, parecido ter sido esculpido diretamente do tronco de árvores imensas, muito bem envernizados, brilhavam de tão limpos, havia muitos convidados, depois do encantamento percebeu que se tratava de uma festa, mas não era parecido com nada que já tinha ido.

Uma música clássica em som ambiente tocava ao longe, todos os convidados conversavam, todos se conheciam, aparentemente, demorou um pouco até que sua presença fosse notada.

– Onirê, que bom que veio.

– Karen? O que está acontecendo?

– Um baile, não está vendo?

– Sim estou, mas você sabe o que eu estou falando, não se faça desentendida.

– Tudo a seu tempo, por favor vamos aproveitar a festa, em breve conversaremos melhor sobre suas curiosidades.

Estava com muita saudade de Karen, e decidiu realmente aproveitar a festa, os dois conversaram sobre o colégio, Onirê falou sobre a briga, sobre os estudos e sobre a família, colocaram os assuntos em dia, comeram e beberam bastante, o cardápio era bem variado, havia pratos típicos do Norte e do Nordeste, a mesa estava cheia, e depois de um bom tempo de comes e bebes o anfitrião chamou atenção dos convidados, e começou a falar:

– Como sabem, estamos aqui hoje reunidos para a celebração do Solstício de Outono, uma data especial que comemora o início de um novo ciclo, onde colhemos tudo que plantamos durante o ano, para poder novamente semear, espero que o Baile esteja agradável para todos.


– Esse é o Vincus, é o anfitrião, todo ano ele dá esse baile, faz parte da nossa tradição.

– Tradição? Nossa? Do que está falando?

– Ah sim, essa aqui é a Sede da Ars Magna, uma Sociedade Filosófica e Filantrópica, que você foi convidado a participar.

– Eu?! - Onirê falou surpreso.

– Sim, ué, porque acha que está aqui hoje? - Karen confirmou sorrindo.

– Então era verdade? Foi você que eu vi no sonho?

– Então… Sim, fui eu, e não foi exatamente um sonho, mas não posso falar sobre isso agora, eu não fui designada a ser sua instrutora, então vamos seguir a ordem, e logo mais você será instruído da forma adequada, e parabéns, eu era a mais jovem aqui, e perdi meu posto para você, espertinho.

Aproveitaram bastante a festa, Onirê comeu muito, havia todo tipo de bebidas, sucos, refrigerante e sempre tinha um garçom servindo água.

– Quem é o jovem, Srta. Karen?

– Esse é o Onirê, um dos meus clientes preferidos – Karen falou não querendo dar muitos detalhes. – Onirê esse é o Sr.Baron, sócio do Museu de Astronomia, filial da Sociedade.

– Prazer em conhecê-lo, meu Jovem.

– O prazer é meu. – Onirê falou trocando um aperto de mão amigável.

  Baron, poderia me acompanhar por favor? Preciso conversar com você. – Um rapaz de cabelo curto arrumado e barba longa tirou o Sr. Baron de perto deles.

            Uma aura vermelha foi surgindo ao redor dos dois, Onirê tentou prestar mais atenção, mas a aura logo se desfez, conforme eles se afastaram.

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Capítulo 12 - A Carta

 

Capítulo 12 - A Carta 

 

Tentou se lembrar do que havia visto, a imagem da Karen vestida, com uma roupa que a pesar de ser adaptada para a mata com coturnos e calça, estava com uma aura diferente, imponente, falando com os colegas de uma forma diferente, nem parecia a mesma pessoa e quando ela virou o susto foi muito grande.

Pensou em ir direto falar com ela perguntar como era possível os dois estarem naquele mesmo lugar, mas estava tão confuso e tenso que preferiu esperar um tempo antes de ir até a loja.

Voltando ao seu cotidiano, começou a se perguntar sobre a percepção de tempo de quando viajava, tinha certeza que passou muitas horas treinando, ao ponto de ficar com muita fome, mesmo assim percebeu ao acordar que não passou de uma noite.

Quando desceu para falar com sua mãe, ela estava na porta, se despedindo de alguém, ele não conseguiu ver quem era, mas ela parecia contente.

– Qual o motivo da felicidade?

– Me fizeram uma nova proposta de emprego, estou ansiosa. – Contou animada.

– Para trabalhar onde?

– É uma surpresa, se eu for selecionada eu te conto – ela saiu em direção ao quarto para se arrumar. – E você vai arrumar suas coisas para ir ao colégio.

Foi cuidar das plantas, trocou algumas de vasos, fez o seu lanche e saiu para o colégio, as pessoas agora o olhavam diferente, como se algo nele tivesse mudado, talvez os rumores da surra que deu no Dante deveriam ter se espalhado.

– Cara, o que foi que aconteceu? Você sumiu – Chiclete perguntou curioso.

– Eu saí correndo pra casa, o Dante veio atrás de mim, brigamos, mas eu acabei o derrubando e fui embora.

– Ah, então foi isso, sua mãe veio aqui enfurecida, falou com a direção e saiu com alguns professores procurando os meninos, mas eles desapareceram desde a briga.

– Bom, vamos deixar esse assunto para lá, estou cansado e ainda me recuperando.

– Boa sorte, boa parte do colégio tá falando em como o Dante voltou arrebentado depois de ter ido atrás de você.

A sua habilidade de socialização melhorou consideravelmente, e era num momento oportuno, porque muita gente estava perguntando sobre o que aconteceu, nem parecia a pessoa tímida de quem se lembrava, estava feliz por isso, mesmo estando completamente confuso por ter visto a Karen, e pela fama repentina por ter batido em um dos valentões, tantas coisas que estavam acontecendo que não sabia o que responder quando questionavam sobre a briga, foi quando percebeu que não deveria adiar a conversa com a Karen, decidiu ir a encontrar após a aula e fazer todas as perguntas que ele precisava.

Quando chegou na loja, a senhora estava no mesmo lugar que costumava ficar, de óculos quase na ponta do nariz, lendo um livro que parecia ser bem velho, mas dessa vez antes dele fazer qualquer pergunta, ela pôs um papel no balcão.

– É para você, e antes que me pergunte, ela está selada, não sei do que se trata.

- Obrigado Sra. Magnólia. – Onirê respondeu pegando o envelope e o abrindo para checar seu conteúdo.

Saiu confuso da loja, na carta estava escrito um endereço, uma frase dizendo “Vá arrumado” e em baixo uma data 21 de março, havia parado de questionar as coisas estranhas que passaram a acontecer e já considerava tudo isso parte do seu cotidiano, colocou a carta no bolso e voltou para casa. Todas as tentativas de encontrar a Karen nesse período foram frustradas, a Sra. Magnólia sempre dava uma desculpa dizendo que ela não estava, ou que ela precisava fazer alguma outra coisa e por isso não estava lá, chegou o ponto que desistiu de encontrá-la até o dia marcado na carta, ao menos esperava que ela estivesse lá.


quarta-feira, 23 de abril de 2025

Capítulo 11 - Sonho ou Viagem?

 

Capítulo 11 - Sonho ou Viagem?

Onirê passou muito tempo lendo sobre todos os tipos de Pedras, Talismãs e similares, até que cansou decidiu deixar o assunto de lado e continuar seus afazeres como de costume, ao voltar do colégio passava na loja para visitar Karen.

– Que tal um açaí hoje?

– Não está um pouco tarde?

– Que tal um lanche?

– Pode ser, preciso ir para casa estudar – Explicou a Karen.

Toda vez que se encontravam, iam em algum lugar fazer um lanche ou visitavam algum local turístico da cidade, essa noite foram ao centro cultural que ficava próximo da loja da família dela, não conversaram muito, e notando o clima estranho decidiu ir para casa mais cedo.

– Nos vemos amanhã?

– Pode ser. – Ela respondeu um pouco distante.

Era uma noite chuvosa e decidiu ir dormir mais cedo por conta do tempo e do frio, arrumou o quarto, deixou tudo organizado para ir pro colégio no dia seguinte e foi se deitar, depois de um tempo na cama despertou de um cochilo, mas estranhamente não estava na sua casa, estava em um local com paredes rochosas, era meio úmido apesar de confortável, estava em uma cama de madeira ornamentada com vários desenhos de animais, havia uma mesa de canto e um armário pequeno com gavetas e um espelho médio em cima.

Levantou, andou um pouco no quarto observando a claridade do sol nascente entrando pela janela, e quando chegou perto pra ver melhor havia uma paisagem deslumbrante que dava para uma floresta bem verde, foi quando a porta abriu e alguém entrou.

– Enfim você acordou - Falou uma voz conhecida.

– Você não me falou seu nome da última vez que nos encontramos.

– Pode me chamar de Za'tar.

– Certo… Como eu vim parar aqui? Eu não fiz nada dessa vez.

– Te chamamos para vim para você vim de forma mais segura, enfim, vamos adiantar porque você precisa treinar.

– Como assim?

– Você precisa de treinamento para não sair por aí sem saber o que fazer.

– Não gostei muito da ideia de vir sem ser avisado, melhor eu ir pra casa.

– Você irá na hora certa, não precisa se preocupar por enquanto, para que você não tenha mais experiências desagradáveis como eu sei que teve a um tempo atrás você precisa treinar, ou vai querer sair por aí de qualquer jeito novamente?

Onirê ficou um tempo parado pensando, depois de ponderar lembrou das últimas experiências e decidiu aceitar o treinamento, logo que saíram do quarto eles passaram por um corredor rochoso e saíram na sala em que Esme ficava.

– Olha só quem veio nos visitar - falou Esme sorrindo

– Bem, não foi exatamente uma visita.

– Não se apegue aos detalhes da viagem, apenas siga o Za'tar, ele será seu instrutor.

– Instrutor de que?

– Vamos, ao chegar no campo eu lhe explico melhor.

Deram a volta na casa e entraram na floresta verde, depois de um tempo seguindo a trilha deram de cara com uma cachoeira.

– Enfim, antes de ir para o campo, você vai ter que treinar seu corpo aqui.

– Como assim?

– Tire a camisa e vá para baixo da queda d'água

– E o que isso vai me ajudar?

– Em breve você descobrirá

Assim que Onirê tocou na água sentiu um frio fora do comum, a água da cachoeira era muito mais gelada do que a água da praia a qual já estava acostumado, e quando entrou na queda d'água não melhorou muito.


– Tá muito frio aqui

– Exatamente, você vai ter que aprender a controlar a temperatura do seu corpo

– E como eu vou saber que tá dando certo?

– Quando você parar de tremer - Za’tar falou rindo

– Tá, mas como eu faço isso?

– Foca na respiração, sinta a energia fluindo pelo seu corpo, imagine uma fogueira pequenina no seu estômago, e imagine o calor dela fluindo pelo seu corpo.

– Tá certo, vou tentar

Passou um bom tempo tentando se concentrar mas a água gelada não ajudava muito, depois de muito tempo já cansado, conseguiu se acostumar com a temperatura da água e focar na região do abdômen, fez como Za'tar pediu e aos poucos seu corpo foi parando de tremer, sentiu o corpo esquentando, foi como a água tivesse esquentado e seu corpo começou a se acostumar com a sensação, quando deu por si, levantou para falar com o seu mestre e logo percebeu a água ficar bem gelada e seu corpo começou a tremer novamente.

– Percebeu, né?

– Sim, a água ficou gelada novamente, mas estava quente agora pouco.

– Sim foi porque você conseguiu unir a sua energia com a da água e assim que esse laço se desfez, você notou a mudança da temperatura.

– Estranho é que eu estou sentindo fome, como isso é possível

– É possível porque você está aqui. E para manter sua energia estável, você precisa se alimentar. É o básico da sobrevivência.

– Como isso é possível?

– Inicialmente você achou que estava sonhando, mas o fato é que você estava viajando.

Onirê ficou um tempo tentando entender o que acabou de ouvir e como aquilo era possível, quando foi interrompido pelo barulho do seu estômago e o frio fora do comum.

– Vamos, você precisa se alimentar

– Para onde vamos?

– Você faz muitas perguntas, tente sentir mais a experiência, andemos

Saíram do Rio e entraram em outra trilha, dessa vez um pouco mais pedregosa com um caminho mais difícil e acidentado, a brisa que passava parecia mais quente e a temperatura estava bastante agradável. Conforme andavam as árvores se tornavam arbustos e podiam se ver várias construções em pedras brancas, casas, pequenos templos, à medida que iam entrando na estranha cidade, começava a ficar claro que se tratavam de ruínas de um lugar que a muito tempo atrás foi uma cidade.

– Que lugar é esse? - perguntou Onirê

– Trata-se de Ruínas de um reino a muito tempo esquecido, mas o que tem de antigo, tem de importância.

– Como assim?

– Em resumo, aqui foram criados os alicerces do que hoje chamamos de civilização.

– Mas não parece tão antiga, tem muita coisa em perfeito estado.

– É um dos mistérios desse lugar, tudo aqui foi muito bem feito, de modo que fosse pra durar, mas também que respeitasse o ambiente ao redor, e desse modo se preservou mesmo sem a população para fazer a manutenção

 – Isso é incrível, mas cadê todo mundo?

 – É o que pretendemos descobrir.

Onirê preferiu não fazer tantas perguntas por hora, porque avistou um alojamento que havia um grupo de pessoas sentadas próximas a uma fogueira e também havia comida, foi muito bem recebido pelas pessoas que estavam ao redor, estava com tanta fome que não prestou muita atenção nelas, foi apenas aceitando a comida, depois de satisfeito Za’tar se aproximou.

– Venha, lhe apresentarei para nossa Arqueóloga, coordenadora de pesquisa.

Foram em direção a uma tenda muito bem erguida, era grande, com um material na cor bege, bastante imponente para uma simples tenda, se aproximaram e entraram, Onirê ficou admirado como era tudo muito bem organizado, livros em estantes pequenas, porém precisamente alinhadas com o material de laboratório - usado para investigar os achados, pensou - quando encontraram a Arqueóloga que estava coordenando a equipe, tomou um grande susto.

- KAREN?!

O susto foi tamanho que o fez acordar em seu quarto novamente, completamente confuso com tudo que tinha acabado de viver, porém seu corpo estava estranhamente revigorado, e disposto, teve uma ótima noite de sono.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Capítulo 10 - Nos becos da cidade

 

Capítulo 10 - Nos becos da cidade 

Onirê passou várias semanas voltando a biblioteca procurando livros que lhe dessem uma boa descrição de pedras e joias, mas no fundo sabia que só era uma desculpa para tentar reencontrar Karen, quando saiu da biblioteca decidiu passar por um local da cidade que não costumava ir com muita frequência pois era movimentado demais e se sentia um pouco perdido em ambientes assim, lá vendia todo tipo de coisa, era uma feira livre onde tinha vários tipos de lojas diferentes, inclusive lojas de outros países, foi então que passou por uma de antiguidades que também vendia livros e decidiu entrar para ver se encontrava alguma pista do que procurava.

Quando entrou na loja foi recebido por uma senhora de cabelos grisalhos, mas ela ficava apenas atrás do balcão distraída lendo, ela olhou por cima do livro pra ver se o menino que acabara de entrar ia mexer em algo, mas logo voltou a ler. Depois de um tempo distraído procurando mais livros, o garoto encontrou um que falava sobre adivinhação e pedras preciosas, foi então que ouviu uma voz familiar “Posso ajudar?”


– Karen!?

            – Ah, é você?

            – O que faz por aqui?

            – Eu trabalho aqui, a loja é da minha família.

            – Por que você não disse que trabalhava numa loja assim?

            – Porque você não perguntou, ué.

            – Então, agora você pode me ajudar a encontrar o livro, ou não?

Ela olhou pra cima e fez uma cara engraçada, pensou mais um pouco e decidiu ajudar, vamos, o que você procura não fica disponível para qualquer público, tem uma seção mais reservada aqui, eu te mostro.

Passaram por um corredor que havia livros dos dois lados, no final do corredor havia uma cortina que dava para uma sala, quando entraram na sala ficou surpreso, havia vários artefatos estranhos, pedras preciosas e semipreciosas, globos de vidros, estátuas de todos os tipos, de várias culturas diferentes, e uma estante de livros.

– Bem, aqui ficam os livros que não estão disponíveis para qualquer público. –  Karen falou com um ar misterioso.

– E por que você tem acesso?

– Porque eu sou neta da dona.

Onirê ficou surpreso, e a seguiu em direção à estante de livros.

Passaram um bom tempo lá conversando e pesquisando, e depois de um tempo acharam um que explicava sobre Talismãs.

Juntou suas economias e comprou o livro.

– Então, preciso ir, você está aqui sempre?

– Bem, quase sempre.

– Então até logo – se despediu da Karen com um sorriso um pouco forçado, de quem não sabia exatamente o que dizer. – Depois volto aqui para te ver.

– Tudo bem, desde que compre alguma coisa – Respondeu rindo e deu uma olhada estranha para a senhora que estava no balcão.

Cumprimentou as duas novamente e foi embora, passando por diversos becos rua, passou por uma praça que havia uma igreja muito famosa na cidade, próximo dela, em uma rua antes havia uma feirinha livre, com muito ambulantes, precisava de muita atenção para chegar até o local onde se pega o transporte para casa.

Ao entrar em uma das Vans notou que havia um rapaz de dreads longos, jogando alguma coisa no celular, com fones de ouvidos e com uma roupa no estilo grunge completamente distraído com o celular.

“Visual maneiro” pensou.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Capítulo 09 - Entre livros

Capítulo 09 - Entre livros 

Dessa vez realmente precisava de respostas concisas, decidiu não mais se aventurar no seu quarto novamente, havia sofrido um choque muito grande com o que aconteceu, e as palavras “Você não pode sair por aí assim sem supervisão” ficaram ecoando em sua mente, então começou a se preparar para mais algum tempo de pesquisa antes de voltar pra aquele local desconhecido. Arrumou sua mochila e seu material, seu caderno, agenda, lápis, canetas, borrachas, pensou em pesquisar mais sobre pedras, e foi para a Biblioteca da cidade.

Adorava estar lá, era um local limpo, com um clima agradável e muito silencioso, era um dos poucos lugares que frequentava que havia um ar-condicionado, então gostava de passar um bom tempo lá, às vezes saía apenas quando estava fechando, tinha alguns locais aconchegantes pra se recostar enquanto lia, eram móveis feitos de materiais recicláveis gostava muito daquela ideia, tinha poltronas de pneu, mesas feita com carretéis gigantes de fios, assentos feito de pallets e almofadas. Quando se distraía das leituras ficava admirando os humildes e aconchegantes móveis.


Passou dias procurando por coisas como pedras, mas só encontrava livros sobre formações rochosas que não lhe pareciam nada divertidas, apenas assuntos “de colégio” como chamava, já desgostoso de ter passado uma semana procurando e não ter encontrado nada interessante, andava devagar pelos corredores procurando com bastante atenção pra ter certeza que não estava deixando nada passar despercebido, foi então que encontrou um livro sem nome novamente, e quando tirou, tomou um baita susto, mas não com o livro e sim com o olho que o encarava na prateleira do outro lado à sua frente.

– Oi !! – disse uma menina com uma voz divertida.

O susto foi tamanho que deixou o livro cair e com um pouco de vergonha respondeu.

            – Oi…

– Não parece muito contente, dormiu de calça jeans? – Perguntou ela.

– Que !? – não conhecia aquela expressão.

– Está de mau humor porque dormiu mal? – corrigiu rindo.

– Não é isso, estou a um tempo procurando livros sobre um assunto, mas já olhei a biblioteca inteira e não achei.

– Ah, sim, nesse caso eu também estaria triste, mas sobre o que seria? Livros adultos só tem na sessão lá de cima.

– Não podemos entrar lá, já tentei, a bibliotecária não deixa.

– Não deixe ela lhe ver. – respondeu ela em um tom desafiador.

Arqueou as sobrancelhas, olhou para as escadas, olhou pra menina novamente e decidiu dar a volta pra olhar pra menina direito. Ela se vestia engraçada, um vestido um pouco colorido demais, dos quais ele não estava acostumado, era magra, com o cabelo preto, azul nas pontas, e um sorriso divertido no rosto.

– Tá bom, qual o plano?

– É bem simples na real, na hora certa você vai lá pra cima e fica no fundo das prateleiras.

– Na hora certa?

Antes de Onirê terminar a pergunta a menina já estava no balcão falando alguma coisa pra bibliotecária, um minuto depois ela saiu em direção ao fundo da biblioteca como se procurasse algo, entendeu o sinal e foi correndo pra escada, subiu os degraus e quando chegou nos fundos do local, a menina vinha logo atrás dele, rindo.

– Foi divertido, enfim, o que foi mesmo que você disse que estava procurando? – Falou rindo.

– Eu não disse. Estou procurando livros sobre pedras.

– Pedras? Como assim pedras?

            Eu vi um bracelete que continha pedras brancas ao redor e uma pedra verde maior no centro, que brilhava bastante.

– Deve ter algum livro sobre pedras preciosas e semipreciosas em algum lugar por aqui, só tem um, porém, não podemos levar o livro daqui por motivos óbvios, mas você pode ler o que está procurando e anotar, vamos, e como disse que se chamava mesmo?

– Eu não disse – repetiu ele – me chamo Onirê e você?

– Karen, prazer.

– Karen?

Ela virou pra Onirê sorrindo.

– Sim! – E voltou a procurar o livro.

Encontraram o livro sem muita dificuldade, mas só havia o nome de várias pedras e as imagens correspondentes, nada muito informativo para o que ele queria.

– Parece uma esmeralda pela descrição que fez, foi algum presente?

– Sim, mais ou menos. – respondeu um pouco nervoso.

– Você achou o livro, mas não parece feliz com o resultado, o que houve?

– Não era exatamente isso que eu estava procurando, apesar de ter sido útil, ao menos agora eu sei o nome.

– Como assim?

– Hã... eu estava... procurando... algo relacionado a essência das pedras ou algo assim…

Pela primeira vez ela ficou com uma expressão bem séria.

– Entendi, acho que não vai encontrar algo do tipo por aqui. – Olhou pra janela. – Está ficando um pouco tarde, é melhor irmos.

– Entendo, tem razão.

Os dois ficaram próximos da escada esperando a moça sair do balcão para saírem correndo de lá, mas já havia passado vários minutos e ela nem se movia olhando pra tela do computador bem concentrada.

– Ela vai precisar de uma ajudinha pra se mover. – Karen falou voltando a rir.

Se levantou, foi até a prateleira mais próxima procurou o livro mais pesado que encontrou, olhou pro Onirê e disse:

– Não se preocupe, é de Física. – Jogou o livro na direção da parte de baixo dos fundos da biblioteca, fez um barulho enorme quando caiu no chão.

A bibliotecária deu um pulo da cadeira e foi ver o que era, foi então que eles saíram em disparada pra saída, se despediram com brevidade para não perder muito tempo lá e foram embora, cada um para uma direção.

– Karen, que pessoa engraçada – pensou Onirê – porque será que ela ficou tão séria quando eu falei o que eu estava procurando? – ponderou

Chegou em casa exausto, não encontrou o que queria, mas conheceu alguém interessante, decidiu ser o suficiente pra não ficar aborrecido, foi arrumar o quarto para pôr a mente em ordem e logo em seguida foi dormir pra recuperar a energia.


segunda-feira, 14 de abril de 2025

Capítulo 08 - Zen não era o único

 

 Capítulo 08 - Zen não era o único

– Porque está com o rosto machucado? – Sua mãe perguntou chateada.

– Uns caras queriam me bater, lá no colégio.

– Como assim? Me explica isso ai direitinho.

Onirê explicou toda a situação para sua mãe que decidiu que ele não iria para o colégio no dia seguinte e que ela iria lá para conversar com a direção para resolver o problema antes dele voltar.

Então passou o dia no quarto descansando, e como não havia o que fazer, decidiu explorar novamente aquele novo mundo. Ao fazer o seu pequeno ritual que realizava para ir até lá, tentou dessa vez se deitar por conta dos machucados que havia no seu corpo, ao tentar meditar acabou dormindo, mas estranhamente sua consciência foi conduzida até a frente da casa de madeira branca.

Lembrou da Caverna de madeira que havia visto embaixo da árvore e decidiu ir até lá, quando passou pelo Carcará, não pareceu se incomodar quando percebeu para onde o Onirê estava indo, dava pra sentir uma brisa saindo da caverna, ficou confuso por não saber de onde vinha a brisa e decidiu explorar lá dentro com mais cuidado lembrando da experiência anterior que o derrubou.

            Conforme ia entrando, mais forte a brisa ficava, o problema era que estava muito escuro lá dentro, então tinha que ir tateando o ambiente para não se desequilibrar.

            Depois de um tempo caminhando com cautela, viu um brilho esverdeado intenso vindo aparentemente de um metal longo no fim da caverna, agora que conseguia enxergar melhor, apertou o passo e se adiantou para ver do que se tratava.


            - Uma espada! - pensou empolgado.

Chegou perto dela, ficou olhando o brilho verde da lâmina, não parecia servir pra batalha, estava presa a uma pedra cheia de inscrições estranhas, desta vez os símbolos eram completamente fora do seu conhecimento, então decidiu pegar a espada...

            Tudo ficou escuro, sentiu a cabeça girar e seu corpo cair numa grama macia, não estava mais em baixo da Grande Árvore, estava em frente a uma grande construção feita de pedras enormes. Havia guardas de prontidão, conforme foi girando a cabeça para sondar o ambiente, foi vendo a imensidão da paisagem até que seus olhos pousaram num rapaz consideravelmente mais velho, olhando diretamente em seus olhos, com um olhar frio e com uma espada apontada para o seu pescoço.

 – Quem é você e de onde você veio? - falou o rapaz com uma voz rouca.


Onirê
 ficou meio apreensivo e tentou se levantar, mas o rapaz aproximou mais ainda a espada.

– Me chamo Onirê, não sei exatamente de onde eu vim, eu estava embaixo de uma árvore com raízes grandes e tinha uma espada verde.

 O rapaz franziu as sobrancelhas, estendeu a mão para o ajudar a levantar.

 – Venha comigo.

 – Quem é você e como eu vim parar aqui?

O rapaz olhou para ele de uma forma severa, assentiu e decidiu não fazer novas perguntas, foi levado por um grande campo ao redor de uma construção de muros enormes que estavam próximos demais para conseguir identificar, depois um bom tempo andando, chegaram em uma casa de tijolos com uma porta de madeira, o rapaz fez sinal para esperar e abriu a porta devagar, falou com alguém que estava dentro da casa, minutos depois o chamou para entrar.

– Aqui está o garoto, agora tenho trabalhos a fazer, volto mais tarde.

            O rapaz saiu e voltou pela mesma direção que eles vieram.

            – Quem é você e como eu vim parar aqui? – Onirê repetiu.

Uma moça encantadora de óculos esporte com olhos verdes penetrantes, arredondados, cabelos pretos, um pouco alta, com a pele marrom avermelhada, com uma roupa de couro marrom, com acessórios de pesquisa, e com um ar de quem ia dar uma bronca nele começou a falar.

            – Eu é quem deveria fazer essa pergunta.

            – Eu já disse, eu estava embaixo de uma árvore grande, havia uma espada verde, eu peguei nela e vim parar aqui.

            – Por acaso havia um Carcará ao redor dessa árvore?

            – Sim…

– Você não pode sair por aí assim sem supervisão, tome cuidado com o que você faz, tem muita coisa acontecendo, e temos trabalho demais por aqui, não precisamos de mais problemas, enfim você sabe me dizer como encontrou esse local?

– Onirê falou das técnicas de meditação que costumava fazer e do Zen, o velho que encontrava volta e meia no meio das práticas.

 Depois de uma longa pausa ela respirou profundamente e depois de um suspiro ela falou.

– Você pode me chamar de Esme.

– Realmente tem muita coisa acontecendo, tenho que voltar pra casa. – Onirê falou um pouco apreensivo.

Esme abaixou um pouco a cabeça e fechou os olhos lentamente, depois de uma pausa, olhou novamente para ele.

             – Por aqui, agora eu preciso dizer: Não é fácil vir aqui de onde você veio, a chave que você usou é muito antiga e estava inutilizada a alguns anos, a casa que você frequenta a alguns dias tem um quarto e nele tem uma forma mais fácil de vir pra cá e segura.

            Ela pôs a mão na algibeira, pegou um bracelete em couro adornado com uma pedrinha verde no centro e outras tantas brancas só que bem menores.

– Quando chegar no quarto, procure uma escrivaninha e lá encontrará um artefato com uma pedra parecida com essa, encoste-as e mentalize esse local que você voltará para cá, não use a outra chave novamente, não é seguro.

As últimas palavras da Esme soaram quase como um sussurro para ele, pois teve uma sensação de desmaio e em poucos segundos estava novamente em seu quarto, mas dessa vez com uma estranha sensação de que realmente tinha viajado, mas riu da própria ideia, “como aquilo poderia ser real?” – pensou.

domingo, 13 de abril de 2025

quinta-feira, 10 de abril de 2025

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Capítulo 07 - Em campo de batalha

 

Capítulo 07 - Em campo de batalha 

O Colégio estava barulhento como de costume, a Rafaela estava sentada na cadeira atrás dele, o Junior e o Chiclete estavam nas carteiras ao lado e a turma não parava de conversar, os três valentões mais temidos da escola entraram na sala, o Roberto o Chris e o Dante, o colégio era dividido em pequenas tribos, que eram conhecidos socialmente como tribos urbanas, mas dentro do colégio isso funcionava como uma dinâmica que garante tanto seu status, sua fama, o quanto você é amado ou o quanto você é temido pela maioria dos pessoas do colégio.

O Dante entrou na sala parecendo muito chateado com alguma coisa.

– Eu vou arrebentar aquele cara. – Falou para o Roberto e o Chris, não era muito grande, nem muito alto, mas costumava andar com os dois grandões que garantiam a ele a coragem o suficiente para manter uma postura intimidadora.

– O que foi que o Marcos fez? – O Roberto que era gordo e tinha uma barba falhada perguntou tentando entender melhor a situação.

– Ele deu em cima da Laiz. – Falou chutando e derrubando a cadeira na sua frente, fazendo todos se assustarem, e o Onirê ficar irritado.

– Cara, vamos fechar ele lá na frente – O Chris falou como quem tinha acabado de bolar um plano.

– Mas você nem tava ficando com ela. – Falou o Roberto ainda tentando amenizar a situação.

– Eu fiquei com ela, mas a gente parou de ficar por um tempo. – Explicou Dante o motivo de tantos ciúmes.

– Ai você acha justo lutar 3 contra 1?  – Onirê se meteu na conversa.

– E quem é você? É baba ovo do Marcos?

– Nem conheço, mas achei curiosa a covardia.

O Dante avançou para cima do Onirê, O Junior e o Chiclete levantaram e o pararam no meio do caminho.

– Então você que vai ver a covardia. – Falou ameaçando o Onirê e saindo da sala com os dois grandões.

– Onirê, o Dante não parecia estar brincando, o que você vai fazer? – Chiclete pareceu preocupado.

Havia se esquecido que apesar de ter uma boa convivência com todas as pequenas tribos do colégio, não era popular o suficiente para o defenderem, a aula passou e ficou o tempo inteiro distraído pensando no que faria, até que lembrou de um colega que morava no bairro ao lado.

– Ei Eddy, soube o que o Dante vai fazer? – perguntou para um cara que sofria de nanismo, que encontrou no corredor do colégio.

– Não, qual foi? – falou olhando curioso para Onirê.

– Ele disse que ia juntar o Roberto e o Chris e ia bater no Marcos lá fora.

– Quem é esse cara mesmo? Um que tem um alargador grande na orelha?

– Sim, ele mesmo.

– Nunca fui com a cara desse maluco.

– Disse que ia me bater também porque fui tirar satisfação.

– Oxe, Em tu? Tu não faz nada com ninguém no colégio.

– Pois é.

– Pera, deixa comigo. – Eddy saiu indo de sala em sala, conversando com vários colegas do fundão que conhecia, era um dos caras mais populares do colégio, não tinha ninguém que o não respeitasse.

Onirê passou as duas últimas aulas do dia nervoso, esperando que tudo corresse bem quando fosse para casa. Estava surpreso ao notar que nunca havia se metido em encrenca, mas estava com uma confiança fora do comum, passou a reparar mais nas pessoas ao redor, e quando se sentia ameaçado era como se pudesse sentir a presença do gorila ao seu lado.


Os 3 garotos estavam do outro lado da rua, só aguardando ele sair, mas estranhamente, havia mais pessoas do que o normal fora do colégio, havia uns caras de Bike que não foram embora e estavam conversando próximo ao portão, havia mais 6 pessoas conversando rindo próximo ao poste na esquina da saída que era um pouco mais a frente do portão, e também havia um grupo de pessoas que estavam com Eddy logo atrás dele conversando.

Assim que saiu do colégio os 3 caras atravessaram a rua e foram em sua direção. Estava com o Chiclete e o Junior. Assim que os Garotos se aproximaram, Onirê tentou desviar do caminho deles e ir embora sem causar confusão, mas os caras o encurralaram na parede ao lado do portão.

– Quem você chamou de covarde, mesmo? – Dante falou apontando a mão fechada para Onirê deixando mostrar uma corrente enrolada nela.

            Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, eles notaram que todo mundo que estava fora do colégio estava esperando só eles se aproximarem do Onirê, formou-se uma parede de pessoas ao redor deles, deixando os 3 escolhidos no centro da roda, Eddy saiu do meio da multidão.

            – Aí Dante, eu ouvi uma história engraçada dizendo que tu tinha juntado dois caras para bater no Onirê. – Disse isso olhando para o Roberto e o Chris – Olha para ele, tão magrinho, tu acha que vai conseguir se defender?

– Não é da sua conta – Cuspiu Dante enfurecido notando que a situação havia mudado completamente.

            – Pode até não ser, meu amigo, mas pela sua cara de pau e covardia, eu vou me meter e é o seguinte, se você quiser bater nele sozinho, pode ir, mas se um desses teus amigos grandões aí se meter, a galera aqui não vai perdoar.

Quando o Eddy fechou a boca, uma confusão havia se formado na parte de fora da roda, um rapaz bateu o guarda-chuva na cabeça do outro, Dante se aproveitou da situação e tentou dar um murro em Onirê que desviou rápido mas que pegou na cara do Chiclete, e aí já não dava para conter, começou uma pancadaria generalizada, Onirê ainda conseguiu se safar, começou a correr em direção a sua casa, mas ao olhar para trás notou que o Dante estava o seguindo, tomou distância o suficiente do colégio para ter certeza que os amigos do Dante não apareceriam e parou de correr.

– Agora você vai ver. – Dante partiu para cima dele e começou a dar socos e pontapés.

Onirê desviou de alguns, mas foi acertado por outros, foi ficando com raiva da situação, mas estava com medo de revidar e machucar o Dante, mas percebeu que se não se defendesse não ia acabar bem, foi então que sentiu a presença do gorila ficar cada vez mais forte dentro dele, puxou o ar com força, conseguiu prever próximo soco do Dante, desviou com maestria e acertou um soco bem dado no queixo do Dante que caiu no chão, sem conseguir levantar.

– Da próxima vez eu não vou parar! – Avisou ao Dante e saiu andando devagar para casa.

“Por um momento eu tive certeza que o gorila estava ao meu lado” pensou.

“Deve ter sido minha imaginação.”

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Capítulo 06 – Região Úmida

 

Capítulo 06 – Região Úmida

Agora em frente à casa novamente, ainda estava com a sensação estranha do último lugar que visitou, precisava descansar um pouco antes de continuar explorar a região, entrou na casa, se deitou no sofá e ficou lá por uns minutos, estava tão aflito pelo que tinha acabado de experimentar ficou com receio de seguir sem pensar direito para onde ia.

Depois de descansar decidiu ir em direção ao lado da casa que não havia janela, ainda não havia explorado aquele lado, andou devagar nessa direção até notar que essa área era estranhamente pedregosa, havia árvores que impediam parcialmente a entrada do sol, em alguns locais o sol não chegava, havia vegetação de todos os tamanhos, era um ambiente bem variado.


Andou por um tempo explorando melhor o local e pela primeira vez estava perdido, não lembrava de como voltava para a casa, mas não se incomodou com isso, apenas continuou explorando, em dado momento ele notou umas pedras com escrituras gravadas, havia umas setas que levava a outras pedras com escrituras como se fosse um mapa, que não sabia onde ia levar, mas decidiu seguir, no caminho avistou uma onça próximo a uma árvore coletando algumas frutas, ignorou e decidiu continuar seguindo o caminho das pedras, não queria deixar o animal com raiva a ponto de o atacar, as pedras para sua surpresa o levou para uma fonte de Água doce que dava para um lago, era um ambiente bastante úmido, as pedras ao redor estavam estranhamente bem posicionadas, parecia um local sagrado construído a muito tempo.

– Como isso pode existir aqui? - falou Onirê para si mesmo.

– Foi criado a muito tempo por uma civilização mais antiga do que podemos imaginar. – Falou uma voz de uma mulher em um tom suave, ecoando da floresta até o local onde estava, próximo à fonte.

– Quem está aí? – Perguntou assustado, não tinha notado a presença de ninguém alí até então.

Sem resposta, resolveu lavar o rosto e beber a água da fonte, o que instantaneamente o fez se sentir muito bem, como se uma sensação de alegria o preenchesse.

– Essa água não parece normal.

– É porque a fonte não é normal. – A voz o respondeu novamente.

Observou melhor o ambiente, não havia ninguém por perto, viu que havia uns coqueiros, resolveu subir neles, retirou os cocos, usou pedras pontiagudas para descascar, e perfurar a parte mais dura, bebeu o máximo de água de coco que conseguiu pra não desperdiçar.

– O que faz aqui, garoto?

– Se você me disser quem é, talvez eu possa confiar em você.

            – Se você prometer que não vai voltar, talvez não precise.

– Eu não sei como voltar. – Confessou.

– Talvez se você refazer o caminho das pedras que lhe trouxeram até aqui, você consiga retornar, mas já vou avisando, se tornar a voltar, não vou lhe ensinar o caminho novamente, e vou garantir para que sua volta não aconteça. – A voz suave passou a ter um tom ameaçador.

– Me parece justo. – Onirê falou indo em direção às pedras com inscrições.

Foi tateando-as, e procurando, foi arriscando o caminho dessa forma, soube que estava no caminho certo pois começou a reconhecer algumas pedras e foi percebendo que realmente estava refazendo o caminho que o levou até a fonte, por sorte, fez a escolha certa, estava novamente no campo.

– Melhor não voltar lá até saber se realmente estou sozinho por aqui. – Pensou alto enquanto entrava na casa e rumava em direção ao segundo andar.

Havia outras portas e tentou abri-las, mas sem sucesso, mas curiosamente a porta da direita, em frente da que havia aberto anteriormente não estava trancada, entrou e encontrou um ateliê, havia uma pintura do Zen com uma garota de olhos verdes sorrindo em frente a uma Árvore grande, vários desenhos claramente feito por uma criança, vários objetos bonecos feito de madeira, um agogô e um atabaque pequeno, observou melhor o que havia em cima da mesa e eram livros e quando abriu, notou que eram de desenhos, várias imagens da natureza, de animais e também do que pareciam ser pessoas, mas com uma aparência um pouco mística, algumas flutuavam.

– Que ambiente confortável, mas o que será que o Zen ta fazendo nessa imagem? – Decidiu ir descansar no outro cômodo.

Acordou novamente no seu quarto, pela primeira vez havia saído da meditação de forma tranquila, dessa vez com a mente mais cansada do que quando começou, mas com uma sensação de estar com o corpo leve. Realmente precisava tomar mais cuidado.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Céu

O Mundo, esse mar revolto Acalmado apenas com a brisa

Na pequena ilha cheio de estorvos Há a benção de observar o que intensifica

Esses sentimentos de tão profundo agouro É a contemplação que nos paralisa

E na inercia desse tempo morto É Onde mora a luz que a tudo vibra.

terça-feira, 1 de abril de 2025

Capítulo 05 - Inesperado Encontro

 

Capítulo 05 - Inesperado Encontro

Percebeu o quanto era importante ter cautela com as coisas que fazia naquele novo mundo quando notou que a última experiência o deixou com ansiedade novamente, mas os bons resultados continuaram, costumava deixar tudo em seu devido lugar, tinha aprendido a cozinhar nos últimos dias, nunca havia se interessado por isso antes, mas a alegria agora era tão frequente que tinha prazer em aprender coisas novas, terminou de se arrumar e foi para o colégio.

            – Ei Onirê, quer jogar videogame mais tarde? – Perguntou chiclete. – Menino alto, magro que estava sempre com uma goma de mascar na boca.

            – Não to muito afim, tenho que ajudar minha mãe a cozinhar.
           
            – Ah cara, para com isso, tu vai passar a manhã toda cozinhando? – Júnior, um amigo corpulento, alto, com algumas espinhas no rosto, perguntou em tom de deboche.
           
            – Cozinhando e cuidando das plantas. – Rebateu.

– Fala sério, vamos jogar cara, consegui o novo Fifa, está muito irado, os jogadores tem umas skills novas, é muito incrível.

– Outro dia marcamos…

– Falando assim você ta parecendo uma mulherzinha.

Onirê olhou revoltado para o Júnior e quando foi para cima dele, uma mão pegou em seu ombro.

– Não precisa fazer isso, vamos…

Rafaela, uma das poucas pessoas que simpatizava com o Onirê, o chamou para o pátio.

– Você é muito fofo Onirê, mas seus amigos não, melhor evitar alguns assuntos.

– Eles são chatos.

– Eles não entendem as responsabilidades que você tem.

– Realmente, vamos comer alguma coisa, o intervalo está prestes a acabar.

            Depois das aulas foi para casa, sua mãe havia comprado o Kit que ele pediu, era um bem econômico, com 4 pequenas ferramentas que serviam para auxiliar a mexer na terra e para mudar as plantas de vasos.

– Obrigado mãe.

– Por nada, meu bem, só veja se tem ideias mais econômicas se não o bolso da sua mãe não vai aguentar. – Falou rindo.

Passou a cuidar das plantas da mãe dele, ela andava achando estranho o comportamento do filho que sempre andava tristonho, agora passava os dias animado, sempre que perguntava o porquê da felicidade, respondia que havia aprendido a gostar de sua própria companhia.

Quando terminou de testar as ferramentas foi para o quarto, tudo pronto para meditação, havia uma aura diferente no ar, conseguia sentir que sua respiração estava um pouco acelerada, mas ignorou e se sentou para meditar novamente.

A sensação estranha de estar caindo pra cima veio com uma intensidade muito forte dessa vez, e não, estranhamente não estava em frente à casa de madeira branca como de costume, era um local completamente escuro, ao contrário da primeira meditação, estava tudo preto, sentiu o coração batendo bem forte dessa vez, não era uma sensação agradável como das últimas vezes, não sabia o que fazer, uma sensação de claustrofobia, um medo crescia, até que surgiu um espelho em sua frente e de dentro dele saiu uma figura que já havia conhecido em outro momento.


– Olá Onirê, vejo que progrediu bastante desde a última vez que nos encontramos.

– Zen? O que faz aqui? Porque me trouxe pra cá?

– Primeiro você precisa entender que esse ambiente é só mais um dos inúmeros ambientes existentes nesse universo, assim como o local que você costuma frequentar. – Zen respondeu calmamente.

– Como assim? Há outros locais?

– Sim, são diversos, em um número que eu não arriscaria calcular, mas não foi eu que o trouxe aqui, esse ambiente não é totalmente seguro, há alguns riscos e você deve estar sempre atento para não acabar entrando em locais que não deveria.

– Entendi, o que são aqueles animais que eu encontrei? - Perguntou Onirê.

– Depende, alguns são guias, outros são guardiões que protegem o ambiente que eles guardam.

– Entendi, como eu faço pra sair daqui? Esse lugar me dá calafrios.

– Primeiro você precisa entender porque você veio parar aqui, não foi eu que lhe trouxe, eu só vim lhe dar alguns conselhos pois acompanhei sua evolução.

– E como eu faço isso? Onirê perguntou já aflito.

Zen tirou uma vela do bolso. Pôs no chão e a acendeu, a vela refletiu no espelho.

– Agora sente-se reflita sobre seu dia e deixe sua mente leve, a resposta virá, agora eu preciso ir.

Zen entrou novamente no espelho e desapareceu. Onirê começou a pensar sobre seu dia, começou a notar que por estar tão feliz, passou a ignorar as coisas negativas do seu dia a dia, tudo precisa de equilíbrio, e olhar apenas para as coisas boas o fez esquecer de dar atenção ao que lhe deixa triste, o sentimento ignorado cresceu a ponto de quase o adoecer.

            Agora que havia entendido, só precisava aprender a sair dali, pensou em como queria voltar para casa na floresta para explorar o resto dos locais, quando percebeu, o espelho virou um portal que levava diretamente para frente da casa de madeira, levantou, atravessou o espelho e pronto, conseguiu sair.