domingo, 29 de junho de 2025

Capítulo 41 - A Guerreira do clã

 

Capítulo 41 - A Guerreira do clã

Os dois continuaram se olhando por um tempo, até que finalmente quebraram o silêncio.

– O que foi que aconteceu? – Thainá reiniciou o diálogo.

– Fui parar num labirinto duas vezes, e na última descobri que o Ícelo está usando o Mundo Virtual para se fortalecer.

– Mas como isso seria possível? Humanos não deveriam ser capazes de ter acesso àquela dimensão.

– Aparentemente eu não sou uma pessoa comum, a Esme me contou algo sobre eu ser o Guardião. – Onirê falou para Thainá que pareceu ter recebido a informação como uma pedrada.

– Isso não pode ser possível - falou baixo, mais para si, do que para ele.

– Thainá, eu preciso das anotações, mas o que houve entre você e a Esme? – Onirê falou em um tom de ordem.

Ela estranhou o quanto ele havia mudado desde a última vez que se viram, a informação sobre ele ser o Guardião a abalou.

– Nós éramos apaixonadas, mas nosso destino não permitiu que ficássemos juntas. – Os olhos dela lacrimejaram.

– Apaixonadas? – falou de sobressalto, levantando rapidamente.

– Sim, brigamos feio quando ela decidiu entrar para à Ars Magna.

– Mas… Como… – Ele ainda tentava entender. – Mas não dava para continuarem mesmo com ela lá?

– Não, faz muito tempo que ela não retorna para casa, porque está em uma missão a anos, buscando informações através da Ars Magna.

– Que tipo de informações?

– Informações de onde o Guardião está. – Concluiu levantando os olhos, e o encarando.

– Então agora que ela achou, vocês vão se encontrar?

– É possível, mas muita coisa mudou desde então, e temos destinos diferentes.

– É sobre ela ser a guardiã das chaves?

– Não, isso não importa agora. – Pegou o pedaço de papel com o poema escrito da pequena bolsa que carregava consigo, em sua cinta. – Toma. – falou mudando de assunto.

– Porque mudou de opinião? Não ia resolver isso sozinha?

– No nosso clã, cada família é responsável por uma função específica, a família da Esme, faz parte dos Sacerdotes, a minha faz parte das guerreiras, e minha função é ajudar o Guardião. –  Ela o encarava fixamente sem piscar.

Onirê pegou o papel devagar, parecia ainda estar processando a informação.

– Onde exatamente fica o seu clã?

– No nordeste do continente.

– E onde exatamente estamos?

– Estamos em uma ilha do planeta Karawara, fica muito longe do continente Tekohá que foi encontrada pelo Zen e usada como base para proteger os assuntos mais sigilosos sobre a pesquisa sobre os três.

– Se o Zen é o pai da Esme, ele não deveria ser Sacerdote?

– Não exatamente, a mãe dela é sacerdotisa, ele é responsável pela arqueologia, os estudos antigos.

– Então agora você é minha guarda-costas?

– Não vai se achando, garoto – Ela riu quebrando o gelo que estava depois da informação. –  O que faremos agora senhor guardião?

– Vamos para casa, preciso te contar sobre o que aconteceu comigo, onde o Kong está?

– Você não percebeu?

– O que?

– Ele era você o tempo inteiro, fazia sua proteção enquanto você não conseguia acessá-lo internamente.

Ela encostou nele devagar, e colocou a mão suavemente no centro do seu peito.

– Ele agora está aqui. – Falou olhando-o fixamente.

– Certo…

– Vou te ajudar com isso, agora vamos…

– Porque esse lado da floresta é tão escuro? – Onirê perguntou enquanto caminhavam.

– As Árvores cresceram demais desse lado da ilha, o que fez com que muitos animais noturnos migrassem para cá e cuidassem do território.

– Foi aqui que encontrei o Kong pela primeira vez.

– A presença dos animais noturnos deve ter te deixado em alerta e ele se manifestou.

– Vou poder fazer isso com frequência?

– O quê? Usar a forma animal?

– É…

– Com frequência não, exige muito gasto de Vigor.

– Então somente em situações extremas?

– É o recomendado, o que sentiu quando sentiu a presença dele pela primeira vez?

– Me senti com muita raiva, mas com uma energia pulsante esquentando o meu corpo inteiro - falou lembrando da luta com Zat’ar.

– E depois…?

– Senti minhas forças se esvaindo e caí de joelhos.

– Exatamente, você precisa aprender a controlar esse fluxo, para não se desgastar demais e poder continuar ativo.

– E como vamos fazer isso?

– Do outro lado da Floresta há um lago.

– Na Floresta de Pedra?

– Floresta de pedra? – Thainá riu. – Lá é onde fica o lago Sagrado, é onde vamos treinar. – Colocou a mão dentro da pequena bolsa novamente e retirou um pergaminho.

– O que é isso? – Pegou o pergaminho e quando abriu viu que era mapa do continente.

– Vê isso aqui no centro? é uma região que atualmente se encontra deserta, mas já foi uma grande floresta.

– O que aconteceu? – Houve um grande cataclisma gerado pela guerra dos 3, a muito tempo atrás.

– Há mais ou menos 600 anos? – chutou Onirê.

– É por aí – Confirmou – Esse evento deixou quase metade do continente infértil, nosso clã tem a missão de restabelecer o ecossistema de Tekohá, mas um clã surgiu logo depois desse cataclisma, eles se intitulam de Mariposas, eles não têm respeito nenhum pelo nosso ecossistema e fizeram a base deles nesta região aqui. – Apontou para o Sudeste do mapa.

– Porque eles não respeitam o Ecossistema?

– Eles estão utilizando a tecnologia como forma de sugar os nossos recursos para enriquecer na terra.

– O Clã das Folhas não tem forças suficientes para os confrontarem?

– Não diretamente, e não sem o guardião, a tecnologia deles os colocam em uma certa vantagem, e com isso eles se protegem muito bem.

– Deixa eu adivinhar, aí precisam do Guardião para equilibrar a batalha.

– Exatamente. – Ela falou olhando para ele, rindo.

– Que no caso, sou eu…

– Por isso eu gosto de você, você é espertinho. – Falou em tom de deboche.

– E qual o plano?

– Primeiro, você tem que treinar, segundo eu preciso entrar em contato com a Soraia.

– Soraia? – Onirê perguntou enquanto se aproximavam da casa.

– Sim, a minha Mestre, ótima caminhada, não acha? – Thainá entrou na casa, enquanto guardava o mapa.


sexta-feira, 27 de junho de 2025

Capítulo 40 - Hesitante

 

Capítulo 40 - Hesitante 

Havia acabado de sair de uma situação muito arriscada, mas estava decidido a voltar, já entendia como o labirinto funcionava e não queria deixar a oportunidade passar, porém seu corpo estava muito cansado, decidiu comer e descansar.

– Como foi de bebedeira ontem? – Sua mãe havia acabado de entrar no quarto.

– Como a senhora sabe? – Falou com uma voz arrastada, de quem havia acabado de acordar, e com uma ressaca terrível.

– Eu já tive sua idade, Onirê, não precisa mentir para mim, confesso que você até demorou. – Falou rindo, mas com uma expressão ainda preocupada.

– Estou bem, só preciso descansar um pouco.

– Liguei para o colégio informando que você não vai hoje, tire o dia para descansar, mas quero saber dos detalhes quando eu voltar do trabalho, tá bem? – Letícia lhe entregou um remédio para dor de cabeça e um copo de água. – Beba bastante água, tem suco de laranja na geladeira, e coma direito, mesmo se estiver sem fome, se você se comportar, esse mal estar vai passar rápido, mas da próxima vez não exagere, ou terei que lhe proibir de sair com seus amigos sem supervisão, já vou. o café já está na mesa.

– Ta bem mãe, te amo. – Onirê falou aliviado por não ter levado uma bronca, mas com uma estranha sensação de incômodo, em relação a ela.

Passou o dia se cuidando e no meio da tarde já estava bem, a tontura, o mal estar e a dor de cabeça já havia passado, então decidiu meditar, foi para o quarto e sentou na posição que havia aprendido no dojo.

Sentiu seu corpo adormecer e aos poucos foi sentindo sua consciência se expandindo, pouco tempo depois já conseguia se ver meditando, enquanto flutuava em seu quarto, começou a subir buscando o mundo virtual, estranhamente a fronteira que ele costumava ver entre a atmosfera e a terra havia sumido, decidiu continuar subindo, até ver as estrelas, não havia o mundo virtual naquele momento “O que aconteceu?” pensou.

Já conhecia o caminho até Andrômeda e continuou sua viagem até lá, no caminho admirava as estrelas, o espaço, os pequenos planetas, alguns longe demais das estrelas para serem vistos a olho nu de lá da terra, foi uma viagem confortável até avistar S-And, entrou em seu sistema até avistar o pequeno planeta, entrou em sua órbita até encontrar a ilha do Zen, foi descendo até a Casa de madeira, era tarde, Kong estranhamente não estava pelas redondezas como de costume.

– Porque demorou tanto? Odeio ficar muito tempo no mesmo lugar, e você me fez esperar muito. – Thainá foi perguntando assim que ele entrou, nem deu tempo dele a cumprimentar.

– Eu estou bem, obrigado por perguntar.

– Onde está a caneta? Descobriu quando vamos poder acessar a câmara? – continuou o interrogatório.

– Eu passei por várias situações desagradáveis, dá para ser um pouco mais simpática?

– Garoto, não temos muito tempo para sua choradeira, a vida é difícil, me responde. – Thainá falou aborrecida por ter esperado muito.

– A Caneta está com a Esme, eu não sei quando é que vamos poder acessar a câmera porque você não me deu as anotações, e eu quase morri de novo.

– A Caneta está com quem!? – Thainá avançou até ele, furiosa.

– Ela disse que iria resolver com você.

– Não acredito que você fez isso.

– Ela me encurralou, Thainá, eu não tive para onde ir, era isso ou lutar.

– QUE LUTASSE! E agora, o que pretende fazer, Sr. Inteligente?

– Agora você vai me dar as anotações para eu levar até ela e poder descobrir como abrir a próxima câmara.

– Nem pensar, Garoto! – Respondeu passando por ele e caminhando até a porta.

– Para onde você vai? – Onirê a acompanhou enquanto ela saía da casa.

– Resolver isso sozinha – Ela saiu correndo em direção a Floresta Negra, ao leste da casa.

– Espere! – Onirê começou a correr atrás dela.

Ao entrarem na floresta a Thainá começou a correr numa velocidade surpreendente, e Onirê estava a acompanhando com dificuldade, ela deu um pulo em uma raiz grande que tinha mais ou menos um metro de altura e antes de tocar o chão já havia se transformado em onça, Onirê ficou enfurecido, não conseguiria a acompanhar naquele ritmo, sentiu seu coração acelerar, e sua pele ferver, sentiu o calor fluindo por todo seu corpo, sua visão melhorar, e seu corpo fazer movimentos animalescos, a presença de Kong tão intensa que chegava a ser palpável, e quando notou, estava acompanhando a Thainá a um palmo de distância, tentou chamá-la, mas ao invés disso ouviu um rosnado grave que a assustou, dando a possibilidade de avançar em cima dela, os dois se embolaram no chão, ela na forma de onça, ele em forma de um Gorila duas vezes maior que ela, ao rolarem entre as árvores da floresta negra, os dois voltaram a forma humana e Onirê aterrissou em cima dela, com o rosto quase colado no dela, com um olhar dourado ameaçador, enquanto ela o olhava completamente desorientada por não ter entendido o que aconteceu.

Estavam próximos demais, seus lábios quase se tocavam pela proximidade, ela desviou o olhar para o lado com o rosto corado, assim que voltou a si, Onirê foi se levantando aos poucos, afastando seu rosto lentamente do dela, mas sem desviar o olhar, soltou devagar os braços dela que segurava apenas para ela não fugir.

– O que foi isso? – Thainá falou, se levantando para se sentar.

– Eu não sei, tentei te falar sobre, mas você não deu a mínima. – Onirê agora quem estava desconcertado, mas ainda sem desviar seus olhos dos dela.

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Capítulo 39 - Chegando ao Labirinto

 

Capítulo 39 - Chegando ao Labirinto

– Onirê!! – Era a Karen

Ouviu a voz familiar vindo do lado direito do corredor, e saiu correndo procurando quem era, mas como encontrar? Quanto mais procurava, mais fundo entrava no emaranhado de pares, letras, e luzes azuis.

– Porque você entrou aí cara? – O Okedirá estava falando com ele, na direção oposta da qual ele estava indo, resolveu voltar.

Quando chegou perto de uma das paredes, sentiu uma pulsão elétrica ao tocar e, na parede em sua frente, ouviu a Karen falando: “Você só quer ouvir de mim, aquilo que você já bisbilhotou, não é? Sim, eu usei você, e agora você está me atrapalhando, me deixa em paz e é melhor não entrar mais no meu caminho.

Começou a sentir muita raiva, e tristeza, as paredes começaram a ficar vermelhas, decidiu sair dali de perto e ir em outra direção, começou a correr num corredor bem longo, até que chegou em mais uma bifurcação, aproveitou a pausa para respirar, e percebeu umas imagens familiares na parede em sua frente, quando a tocou, sentiu novamente uma pulsão elétrica e ouviu a Ariel: Sim, os lanches daqui são os melhores da região, e os chás são feitos com ervas frescas, são incríveis.” - Uma sensação de paz o invadiu, as paredes começaram a ficar Roxas, ele foi se afastando devagar e acabou se esbarrando na parede atrás dele, outra pulsão, e dessa vez ouviu o Magno: “Inclusive, Jó, aquela mesa é por conta da casa Chegou a rir da cena que tinha acabado de lembrar, e as paredes começaram a ficar azuis.

“Elas estão variando as cores a partir das memórias” - pensou.

Tentou andar devagar, percebendo a mudança positiva, mas não queria se arriscar tanto, continuou naquela mesma região, foi andando para o corredor a esquerda até chegar em outra bifurcação, e tocou na parede da frente, outra pulsão: “Porque não se senta aqui do meu lado pra gente pôr os papos em dia?” - Era o Okedirá.

“Acho que entendi, estou na cidade, e naquele momento, no Sain’t Phillipus.”



Ao chegar a essa conclusão as paredes começaram a ficar verdes, assim como as letras e aí ele lembrou dos vagalumes – que não eram vagalumes – próximo da câmara, e ao fazer isso algumas letras começaram a variar as cores, dava para ver nas paredes agora, letras azuis, letras vermelhas e letras verdes.

“Estão reagindo a mim, não apenas as minhas emoções, como isso é possível?”

– Está gostando do meu brinquedo? – Ouviu uma voz tão grave e tão ameaçadora que fez todo seu corpo tremer, logo após percebeu também algumas letras se apagando nas paredes, quando se aproximou percebeu que elas não estavam apagadas, estavam pretas, que quase não dava para ver nas paredes azuis.

– Quem está aí? – Perguntou, tentando lembrar se conhecia a voz, mas não lembrava de já a ter escutado.

– Você é um garoto curioso, nunca tinha visto um mortal por aqui, não desta forma. – A voz continuou parecendo ignorar a pergunta.

Onirê resolveu seguir as letras pretas que apareceram, mas quanto mais andava, mais perdido parecia estar, por um momento se esqueceu que estava na cidade, e aí resolveu tocar numa das letras pretas, e ouviu a voz do Ricardo: “Funciona como uma forma de medir a compatibilidade de pessoas, e com as informações suficientes será possível às dividir em grupos, dessa forma, poderemos entender como funciona as Tribos urbanas, sem precisar fazer parte delas” - Aquela memória não era dele.

– Pare de bisbilhotar aí, garoto, não quero ter que agir, irá me custar muita energia. – A voz falou novamente em um tom ameaçador, só que agora parecia furiosa.

Era uma informação nova, ele não sabia em que local da cidade estava, mas parecia ser onde o Ricardo conversava com seus aliados, continuou exatamente no mesmo lugar e tocou em outra letra preta na parede atrás dele.
 “Entendo, dessa forma seria possível uma quantidade absurda de lucro, porque dessa forma, sem precisar conversar com as pessoas, poderíamos destinar os produtos que elas querem, mas isso não poderia também ser um problema?” - Lembrou da voz do rapaz que tinha visto na casa de chá, era o Alex.

– GAROTO É O ÚLTIMO AVISO! - A voz ameaçadora parecia furiosa, ele sabia que estava chegando no ponto certo, andou um pouco mais a frente e tocou em outra letra preta. “O problema evidente disso é que ao separar os grupos, estaríamos aproximando pessoas que não sabemos quem são, isso na Surface não teria problema nenhum, o problema seria no fundo” - Era a voz da Rayla.

– Eu avisei – A voz concluiu e parou de falar, vários robôs com olhos de lentes fotográficas começaram a surgir dos caminhos dos corredores, agora ele estava encrencado, da única direção que ainda estava livre ele começou a correr.

“A Esme falou que os 3 ainda estão brigando em proporções que não compreendemos, ela pode não ser capaz de entender, mas parece que eu sim, essa voz era do Ícelo, ele está usando o virtual para ficar mais forte” - Pensava enquanto corria com os robôs indo atrás dele, começou a notar pequenas letras amarelas surgindo, mas de forma bem escassa em algumas paredes que passava, notou uma se aproximando mais a frente e tocou nela ao passar.

“E se não nos vermos mais? Sua família está furiosa, você não quer sair daqui e ir para outra cidade? Poderíamos tentar nos virar, trabalhar, ter uma vida simples” - Era sua mãe, Onirê vacilou quando a ouviu, tropeçou e caiu. Um dos robôs se aproximou o suficiente para o acertar com um golpe no rosto.

– Chega de fugir! – Parou, respirou e sentiu a presença de Kong ao redor dele crescer, avançou em direção ao robô que o golpeou e desferiu um golpe que o fez voar e acertar outros dois que vinham atrás dele. Atrasou-os o suficiente para tocar em outra letra amarela.

“Mas a família dele era muito rica, e não aceitava nosso relacionamento, e quando descobriram que ele estava comigo, o mandaram para outro país, ele não sabe de você e eu nunca consegui entrar em contato com ele.” - Tornou a ouvir a mãe, uma força muito grande começou a crescer em seu peito, ele se sentia renovado, precisava continuar a seguir as letras amarelas, foi se guiando, entrando nos corredores onde a quantidade delas aumentavam.

Até que virou em um corredor, onde havia esferas de cores sortidas, uma de cada cor, Amarela, Azul, Verde, Vermelha e Preta. Havia chegado ao centro do Labirinto, sem pensar duas vezes se aproximou e tocou na Amarela, sentiu uma pulsão elétrica extremamente forte que o puxou para dentro da memória, estava no Dojo do Sain’t Phillipus.

– Ele é filho da Letícia, por favor, seja cuidadoso com ele, aprender Kendô será essencial para o seu desenvolvimento.

– Essa não é a garota que você era apaixonado? – Perguntou Erick rindo com o canto da boca.

– Faz muito tempo, Erick. – Sr. F. respondeu.

Onirê despertou em sua cama, ofegante, suado, com o corpo tremendo, com muita dor de cabeça, e com muita sede.



segunda-feira, 23 de junho de 2025

Capítulo 38 - O Piloto automático

 

Capítulo 38 - O Piloto automático

Todos se divertiam e bebiam enquanto o show continuava a toda altura, apenas a Bruna e o Magno continuavam a se divertir sem beber, Onirê nunca se divertiu tanto, em algum momento quando o show atingiu o seu clímax, o vocalista chamou a multidão para perto do palco e começou o que chamavam de “Bate cabeça” abriu-se uma roda perto do palco, e várias pessoas começaram a se empurrar e às vezes até se esmurrar, mas como uma forma de diversão, quando alguém caía por conta dos empurrões, o pessoal parava a roda, levantava o caído e a “brincadeira” continuava. Ele observava o quando aquilo parecia perigoso e ao mesmo tempo muito divertido, “é uma ótima forma de extravasar as energias” pensou, foi se aproximando da roda e ouviu uma voz, que não parecia vir de fora, mas sim de dentro de sua mente “Vai lá”. “Porque não?” pensou para si mesmo enquanto seu corpo já havia entrado no meio da roda, protegia o seu rosto com os braços, enquanto usava os mesmos para empurrar quem se aproximava, pulava, ia de um lado para outro, mesmo sem querer, sendo empurrado por outras pessoas e às vezes empurrando também.

Tudo estava muito bem e muito divertido, mas começou a ver as cenas como flashes, às vezes estava ali consciente que estava no “bate cabeça”, mas às vezes parecia não estar ali, parecia estar fora do seu corpo.

“HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA HA”

Ouviu uma risada muito alta vindo de algum lugar que não conseguia localizar, ele não estava mais no bate cabeça “Estou no mundo onírico?” pensou.

– Onirê, você quer mais um gole? – Ouviu a voz de Okedirá perguntando.

– Sim, é claro! – Ouviu sua própria voz respondendo. “Mas como?” pensou, tentando ainda entender o que estava acontecendo.

“Acha mesmo que só porque é filho de um dos caras importantes que você tem total controle sobre isso aqui, garoto?” - Ouviu uma voz um pouco esganiçada, como se fosse uma pessoa bêbada falando, mas ao mesmo tempo sentia que a voz não parecia de alguém fora de si, apenas levemente afetado pela grande quantidade de álcool.

“Quem está falando comigo? Aqui está muito escuro, não consigo ver.” – ouviu um estalar de dedos.

“Desculpe, esqueci de acender as luzes, ha ha ha ha ha ha” – A mesma voz esganiçada respondeu, num tom de deboche.

“Eu estou no Reino Onírico?” – Perguntou preocupado.

– Ei cara, vamos comprar mais uma garrafa – Ouviu sua própria voz, falando para Okedirá. – “Não, eu já bebi demais, não é para eu comprar outra garrafa”

“Ha ha ha ha, garoto, não adianta, aquele alí não é você, pelo menos, não no momento.”

“Mas como isso é possível?”

“Você agora está no ‘piloto automático’, apenas relaxe e observe, se tiver senso de humor suficiente, pode ser divertido, ou não, ha ha ha ha ha” - A voz esganiçada não parava de rir, enquanto assistia Onirê ficar desesperado, sem saber o que fazer para retomar o controle do seu corpo.

“Mas como é que eu vou para casa? Eu preciso ir para casa!”

“Você sabe disso, mas aquele cara alí, an an an, ele não sabe não, ele agora só quer beber, se divertir o máximo que puder até não aguentar mais e dormir onde for mais fácil de chegar, mas para sua sorte, tem uma amiga que não sai da cola dele.”

“A Bruna!” – Nesse momento sentiu uma tontura enorme, e avistou algo como uma redoma de vidro enorme, com letras azuis descendo, como se estivessem sendo escritas de baixo para cima, projetadas na superfície de vidro.

“É melhor não ir por aí garoto, nem sei como você conseguiu chegar aqui, mas se entrar aí, eu não vou poder te acompanhar não” A voz esganiçada agora parecia um pouco preocupada. “Esse aí não é o meu domínio.”

– O Algoritmo está quase pronto, dessa forma poderemos ter acesso melhor ao reino onírico e poder finalmente localizar a Máscara do Ícelo – Ouviu a voz do Ricardo falando com alguém.

“Onde eu estou? E quem é você afinal?”

“Não seja tão burro, você é filho de quem? Não te disseram? Você estava fazendo o que antes de chegar aqui? Evoé, se seu pai existe, todos nós também existimos”

– Pelo que o Onirê me disse, o poema é uma chave, e se você conseguir desvendar do que ele fala, você é capaz de saber a hora em que a porta da câmara se abrirá. – Era a Karen.

– Era uma noite de lua cheia quando ele conseguiu, não é?

– Sim, era.

– Então não é difícil saber o resto.

“Ela realmente está trabalhando com ele” - Começou a sentir uma raiva muito grande, toda a estrutura a sua volta começou a tremer.

“Ei garoto, vai com calma aê, você nem sabe o que está fazendo”

“Preciso saber o que é aquilo”

– Oi mãe, cheguei! – Ouviu sua voz falando com sua mãe. “Já estou em casa? Como isso aconteceu?”

“Eu falei garoto, aquilo é seu piloto automático, enquanto tava brincando por aí, ele estava se divertindo, olha pelo lado bom, você já está em casa, ha ha ha ha!”

“E como eu faço pra voltar?”

“Você vem me perguntar? É mesmo bem ousado viu.”

Sentiu-se ser puxado para perto da redoma de vidro novamente, e dessa vez dava para ver a câmara do Ícelo dentro dela, parecia ser uma cortina feita de letras azuis, que se atravessasse, chegaria até a câmara novamente.

“Preciso chegar até a máscara antes dele”

“Já falei com você que se for por aí, não poderei te acompanhar”

“E o que isso significa? você não está fazendo nada, só falando comigo e eu nem sei onde você está”

“Significa que você está em casa, e dentro do meu domínio, pela quantidade ridícula de álcool que ingeriu pela primeira vez, hahahaha” - quase que instantaneamente depois a voz esganiçada ficou muito séria “Mas se for por aí, sairá do meu domínio, aí não poderei mais falar com você, isso significa que eu não posso garantir que vai voltar pro seu corpo.”

Nesse momento Onirê já não ouvia mais a voz e começou a andar em direção a redoma de vidro, quando surgiu em sua frente um cara relativamente gordo, com uma camisa havaiana entreaberta, com um copo de cerveja na mão, bermuda e chinelo.


– Garoto, você não me ouviu, você não pode entrar aí, tenho uma dívida com seu pai, e se alguma coisa acontecer com você, vou ter que prestar contas com ele em dobro, e isso não é do meu interesse.

– Cara, eu preciso ir lá, você não viu o que disseram?

– Mas não é seguro, você sabe com quem está lidando?

– Já me falaram sobre eles, mas eu preciso entrar alí e alcançar a máscara antes deles, eu já entrei lá. – Onirê estava decidido, empurrou o rapaz e tocou na redoma de vidro.

Foi como tocar em algo molhado, mas sua mão não parecia estar molhada, o rapaz atrás dele estava furioso, mas não podia fazer nada, Onirê já não estava em seu domínio. A mão dele foi afundando em algo gelatinoso, e o corpo dele foi desaparecendo do local escuro, e entrando em um local cheio de luzes artificiais, o chão era metálico.

“Eu já estive aqui, não estou na câmara, não era para eu estar aqui”

Tentou voltar, mas já era tarde, ele havia entrado no Virtual novamente, havia várias luzes nas paredes, as paredes formavam um corredor, quando ele se aproximou para ver, eram as mesmas letras azuis que tinha visto do lado de fora, como se estivessem sendo escritas de cima para baixo, por toda a extensão da parede, quando chegou no fim do corredor, percebeu que havia 2 caminhos, um para esquerda e outro para direita, escolheu o da esquerda, e quando chegou lá, havia mais dois caminhos, para ambos os lados.

“Estou num labirinto” - Concluiu.

sábado, 21 de junho de 2025

Capítulo 37 - Aos novos ares

 

Capítulo 37 - Aos novos ares

O Dia estava nublado, fazia frio, mas não chovia, era uma manhã calma e silenciosa, até para o Sain’t Phillipus que costumava ser assim em horário de aula, a relação de Onirê com a Ariel não era muito próxima no colégio devido as amizades que não convergiam, mas volta e meia eles trocavam algumas palavras como forma de se manterem próximo, apesar de tudo, ela era uma ótima companhia, e realmente tinha gostado dele, que por outro lado estava gostando de não estarem tão próximos o tempo todo por ainda estar magoado com a Karen.

– Ei Onirê, vamos no Basquete hoje? – Okedirá convidou-o quando saíam para o intervalo.

– Vai ter show das bandas de uns amigos nossos depois do jogo – Bruna completou empolgadíssima.

– Show? – Perguntou curioso.

– Sim, é lá no bairro da Bruna, tem uma quadra onde o pessoal joga basquete, de vez em quando o pessoal se organiza para fazer uns eventos da cena. - Explicou Okedirá, também empolgado.

– To dentro, preciso me distrair, os dias tem sido bem puxados.

– E o treinamento hoje? – Magno perguntou preocupado

– Hoje eu não vou, estou atolado de responsabilidades, preciso curtir um pouco.

– ISSO!! – Okedirá e Bruna responderam em uníssono.

– Bem, não quero encarar o Sensei sozinho, então também vou! – Magno assentiu.

– Vamos nessa então, depois do colégio vamos pra casa nos trocar, tenho que pegar meu Skate – Okedriá respondeu enquanto procurava alguma coisa na mochila.

– E eu também preciso me trocar né – Bruna completou. – Ei Onirê, vamos uma partida de Xadrez? – convidou-o sentando em um dos bancos do pátio.

– Vamos, não sabia que gostava.

– Tenho meus caprichos.

Okedirá retirou uma máquina fotográfica semiprofissional da mochila e começou a fazer registros das pessoas que caminhavam, dos dois concentrados na partida, do magno desenhando e da paisagem do colégio.

– O que é isso? – Onirê perguntou rindo.

– Novo Hobbie, estou tentando coisas novas.

– Maneiro, acho que to precisando de algo assim também.

Depois do colégio eles foram para suas casas, e no meio da tarde se encontraram na praça onde haviam marcado como ponto de encontro.

– Vamos andando daqui? Não é tão perto, mas a gente vai aproveitando o caminho conversando. – Sugeriu Okedirá, que estava de camisa quadriculada amarela aberta, camisa preta por dentro calça jeans com uns detalhes rasgados, e all star.

– Vamos nessa! – Bruna confirmou já adiantando na frente, estava de espartilho em cima de uma regata preta, chorte curto preto, meia arrastão, coturno, delineador que realçava seus olhos negros, e os cabelos ondulados soltos.

“Uau”, pensou Onirê ao reparar, ele estava com uma camisa cinza escuro, calça jeans preta e all star, com os cabelos ainda trançados, e o magno com camisa branca, calça jeans básica e uma bota cano médio preta e assim seguiram em direção à quadra de basquete andando.

– A quanto tempo vocês jogam basquete? – Onirê começou o diálogo, empolgado por estar saindo da rotina.

– Desde que comecei a andar de Skate, já faz um tempinho, meus pais não costumavam me deixar sair de casa, mas quando começaram a confiar mais em mim, comecei a frequentar alguns eventos da cena underground e continuei desde então. – Okedirá respondeu.

– Foi assim que nos conhecemos até, antes de estudarmos no Sain’t Phillipus, quando nos encontramos lá foi uma surpresa e tanto, era o último lugar que achei que o encontraria - Bruna completou rindo, com ele.

– E como é o pessoal lá? Você não está curioso, Magno? – Onirê perguntou notando que Magno estava concentrado em alguma coisa.

– Eu comecei a frequentar a quadra também depois que os conheci, sem novidades pra mim – Respondeu em tom simpático, ainda concentrado, com sua prancheta de desenhos debaixo do braço, e alguns lápis e canetas no bolso.

– Ah Onirê, aí você vai estragar a surpresa, só curte o momento. – Okedirá respondeu, ponto o Skate no chão e tentando fazer algumas manobras enquanto seguiam o caminho.

Ao chegarem na quadra, havia um número considerável de pessoas, algumas nos bancos sentados conversando, outros fazendo manobras nos skates em obstáculos improvisados, alguns sem camisa, outros com jaquetas de couro preta, alguns caras mais velhos perto de motos customizadas e colete de couro por cima das camisas conversando, e um palco pequeno improvisado com uma bateria, um tripé com um microfone e duas caixas amplificadas, tudo parecia improvisado, mas muito bem arrumado.

Okedirá e Bruna foram se aproximando de dois caras que conversavam no banco, um albino com dreads longos até a cintura, e outro com cabelos brancos, barba grande e óculos Ray Ban escuros, ficaram conversando, e começaram a ensinar os movimentos de basquete para Onirê, alguns passes, arremessos, como fazer o passe, o essencial para começar a jogar.

Ficaram jogando por um bom tempo, até que a banda subiu no palco quando o sol começou a se pôr, o dia continuava nublado, mas àquela altura já fazia calor por conta do sangue quente da partida.

– Vai um gole? – Perguntou um dos caras, oferecendo uma garrafa de vinho barato para Onirê.

– Porque não? – Estendeu a mão para pegar.

– E você já bebeu antes? – Bruna perguntou surpresa, o impedindo por um momento.

– Não, mas quero experimentar.

– Então não vou beber, alguém tem que ficar sóbria.

– Beleza – Respondeu pegando a garrafa de vinho e dando uma boa golada no líquido gelado, tinha um gosto meio doce, meio amargo, não era ruim, mas também não era muito bom por conta do ardor proporcionado pelo álcool.

– Ei, cara, vai com calma, isso não é suco de uva. – Respondeu Okedirá.

Magno estava já sentado no banco mais próximo, observando a banda começar a tocar e o pessoal conversando rindo, ele também estava se divertindo ao seu modo.